Tem início o processo para acabar com o embargo vergonhoso e deprimente dos EUA contra Cuba

Posição intransigente norte-americana fracassou e é motivo de tensão nas relações com América Latina, Europa, África Rússia e China, que escolheram o diálogo com o Fidel Castro

Jim Lobe

Da agência Inter Press Service


O senador Richard Lugar (foto), do Partido Republicano, exortou o governo de Barack Obama a realizar profunda revisão das políticas hostis contra Cuba, que já duram meio século.
A exortação de Lugar anima a possibilidade de o governo dos EUA impor mudanças substanciais na política cubana, inclusive além das promessas eleitorais de Obama, afirmam especialistas em Washington.
"Lugar é a principal figura do Partido Republicano em matéria de política externa, alguém sem antecedentes de reclamar mudanças na política em relação a Cuba", disse Daniel Erickson, do centro de estudos Diálogo Interamericano.

Segundo ele, é significativo o fato de ser ele a manifestar-se e sobre o assunto, ao dizer que o embargo contra Cuba não defende os interesse nacionais dos EUA.
“Lugar adiantou-se a Obama com sua própria proposta de mudança, e assim cria contexto que vai muito além do levantamento das restrições às viagens de cubano-norte-americanos e ao envio de remessas de dinheiro a Cuba”, ressaltou.
“O que presenciamos é o momento do impulso”, disse outro especialista em assuntos cubanos, Geoff Thale, do Escritório em Washington para a América Latina, outro centro de estudos da capital norte-americana especializado em direitos humanos tradicionalmente contrário ao embargo.
Segundo Thale, o governo já está revisando a política para Cuba, por isso Lugar amplia para Obama o espaço político para que adote ações mais fortes do que previa.

Lugar, ex-presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, disse que Washington deve reconhecer a ineficácia da atual política e tratar o regime de Cuba de modo que garanta os interesses norte-americanos.

Segundo ele, após 47 anos, o embargo unilateral contra Cuba fracassou.

O documento, intitulado “Mudar a política para Cuba em favor do interesse nacional dos Estados Unidos” oferece, segundo o senador republicano, “significativa informação de dentro e várias recomendações importantes”.

Lugar apresentou informe na véspera do primeiro aniversario da transferência do poder do ex-presidente Fidel Castro ao seu irmão Raúl, completado dia 25 de fevereiro, e se baseia em suas conclusões após visita de quatro dias a Cuba.
O legislador recomenda diálogo bilateral sobre migrações e narcotráfico, cooperação em matéria de desenvolvimento de fontes alternativas de energia, aliviar as restrições às viagens e ao comércio e incentivo do reingresso de Cuba em instituições multilaterais, como Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento.

Estas medidas, segundo Lugar, seriam parte de processo de compromisso em seqüência destinado a desenvolver a confiança entre as duas nações.

Tanto o informe como as declarações de Lugar ao apresentá-lo alimentam as especulações de especialistas em questões cubanas sobre os passos futuros do governo norte-americano.

O presidente Obama prometeu em 2008, em campanha eleitoral, levantar as restrições impostas às viagens de cubano-norte-americanos à ilha e às remessas de dinheiro para Cuba.

A secretária de Estado, Hillary Clinton, que exibiu posição a respeito de Cuba mais dura do que a de Obama quando ambos disputavam a indicação presidencial democrata, anunciou no Senado, antes de assumir o cargo, que o governo revisaria a política para a ilha.

Mas, já passou mais de um mês desde a investidura de Obama e não estão designados os funcionários-chave para processar essas mudanças, entre eles o secretário de Estado-adjunto para o Hemisfério Ocidental, cargo que recairia sobre Arturo Valenzuela, professor da Universidade de Georgetown.

De todo modo, prevê-se que Obama levante formalmente as restrições antes da Cúpula das Américas, que este ano acontecerá em Trinidad & Tobago.
Observadores afirmam que combinará essas medidas com o levantamento das restrições às viagens de intercâmbios cultural e educativo – pelos quais milhares de cidadãos norte-americanos viajaram para Cuba no final da década de 90 – bem com as comerciais, como a exigência de pagar em dinheiro e adiantado as importações de produtos agrícolas norte-americanos, imposta pelo governo anterior.
“Creio que a situação se reverterá pelo menos ao estado em que estava no final do governo de Bill Clinton (1993-2001), disse o especialista William Leo Grande, decano da Escola de Governo da American University.

“Recordemos que foi o Senado de maioria republicana que aprovou em 2000 a venda de alimentos e remédios para Cuba, por isso não creio que existam muitos riscos políticos”, disse Leo Grande.
Vários congressistas, entre eles Lugar, apresentaram nas últimas semanas com extrema discrição projetos de lei que representariam o levantamento de todas as restrições às viagens para Cuba de cidadãos dos EUA, o que implicaria golpe definitivo ao embargo.
A Câmara de Representantes e o Senado aprovaram projetos nesse sentido em 2003 e 2004, que não prosperaram pelas ameaças de veto por parte de Bush.

A maioria dos observadores no Congresso acredita que agora são maiores as possibilidades de sanção, pois a posição de Obama a favor destas iniciativas anula as objeções dos anticastristas radicais procedentes da comunidade cubano-norte-americana no sul do Estado da Florida e em Nova Jersey.
“Grande parte do que acontecer daqui em diante dependerá da atitude de Obama”, disse Leo Grande, recordando a influência conquistada pelo lobby anticastristas pelo financiamento de campanhas políticas.
Se Obama diz que é tempo de mudar e que apóia o fim das restrições às viagens, isso abre espaço político para que alguns legisladores reticentes votem a favor desses projetos, disse o especialista.
“Mas, se disser que aprovará somente o levantamento das restrições para os cubano-norte-americanos, de não for mais longe, nada acontecerá”, afirmou Leo Grande.
O maior apoio virá da comunidade empresarial, segundo Jake Colvin, vice-presidente do Conselho Nacional de Comércio Exterior, associação de várias centenas de empresas multinacionais que exigem a remoção completa de todas as restrições comerciais e de viagens a Cuba.

Colvin aprova o informe de Lugar;
"é de muita ajuda para a reforma das sanções unilaterais”, explicou.
Segundo o documento, o embargo não só fracassou como também deixou tensa a relação dos Estados Unidos com a América Latina e a Europa, que escolheram política voltada ao diálogo com o regime de Fidel Castro, primeiro, e de seu irmão, depois.

Lugar recomenda que seja criada comissão com membros dos partidos Democrata e Republicano para estabelecer nova estratégia, mas, de caráter multilateral, junto com América Latina e Europa.


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Bloqueio a Cuba e a podridão humana na Casa Branca"
de Atilio Boron, cientista político é secretário executivo do Conselho Latino-americano de Ciências Sociais (Clacso) e professor de Teoria Política na Universidade de Buenos Aires

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