Por Mário Augusto Jakobskind, do Rio de Janeiro
Mario Neira Barreiro, ex-agente do serviço de inteligência do governo militar do Uruguai, então conhecido como Tenente Tamuz, revelou que está sendo ameaçado de morte.
Ele denunciou, no início deste ano, que o presidente João Goulart, morto em dezembro de 1976, foi envenenado em operação dos regimes militares na América do Sul articulada pelos Estados Unidos.
Jango passou a maior parte de seu exílio no Uruguai, depois de ter sido deposto em abril de 1964, mas teve de deixar o país por estar sofrendo ameaças de morte.
Barreiro acusa agentes da CIA de serem os responsáveis pela montagem de “farsa para ocultar o infame assassinato político instigado e patrocinado pelos Estados Unidos”.
Ele está preso na penitenciária de Charqueadas, no Rio Grande do Sul, condenado por roubo, formação de quadrilha e posse ilegal de armas.
Em carta enviada a João Vicente Goulart, filho de João Goulart, e repassada ao ministro da Justiça, Tarso Genro, ao ministro de Direitos Humanos, Paulo Vanucchi, entre outras autoridades, Barreiro diz que por ter feito a revelação de que o presidente brasileiro foi envenenado passou a ser perseguido pela Dirección Nacional de Información e Inteligencia do Uruguai (DNII).
Segundo Barreiro, a DNII foi criada “sob diretrizes e auspícios norte-americano e que até o presente encontra-se infiltrada pela CIA, da qual continua até hoje subordinada e recebendo financiamento”.
O ex-agente uruguaio disse que por ter feito a denúncia teve de fugir para o Brasil pensando que poderia contar a verdade sobre o que aconteceu com João Goulart e obter as mínimas garantias de vida.
Mas isto, segundo Barreiro, não aconteceu e “hoje vejo que estou mais desamparado e exposto do que nunca”.
Barreiro disse que desde que os meios de comunicação brasileiros divulgaram as suas denúncias de que João Goulart foi envenenado, o próprio chefe de disciplina da penitenciária onde se encontra preso “tem pretendido convencer-me a que desista de sustentar minha versão”.
O ex-agente de inteligência uruguaio assinalou que continua vivo, “só porque ironicamente tenho recebido a proteção de outros presos, que têm se solidarizado com minha desfavorável condição”.
Depois afirmar que esperava que as autoridades brasileiras adotassem atitude séria para esclarecer os fatos “vejo que tudo não passa de mero formalismo e em breve as minhas valiosas informações terminarão indo junto comigo para o túmulo”.
Barreiro pede que seja tomado o seu depoimento antes que seja tarde.
“Que estão esperando para tomar meu depoimento? Meu óbito?”, indaga.
Barreiro argumenta que é inútil solicitar alguma informação à DNII que comprometa os Estados Unidos.
Segundo ele, a inteligência policial uruguaia jamais delataria os planos macabros dos EUA, sendo que este país “sustenta logística e financeiramente a Brigada de Narcóticos e suborna a uma grande maioria de policiais corruptos desse órgão”.
Em outro trecho da carta enviada a João Vicente e que foi entregue a parlamentares brasileiros que investigam a denúncia sobre o assassinato de João Goulart, Barreiro observa que “me custa acreditar que estejam perdendo o tempo pedindo informações sobre antecedentes da minha vida pregressa aos que quiseram eliminar-me para sepultar a verdade”.
O ex-agente da DNII denuncia que guardas da penitenciária de Charqueada apreenderam os originais de sete volumes que escreveu contando detalhes sobre o assassinato de João Goulart. Barreiro garante que forneceria “cópia xerox se me houvesse sido solicitado a título de colaboração” e acrescenta: “Não entendo o motivo pela qual a autoridade prisional toma atitude hostil e intimidatória contra mim, sendo que me ofereci de livre e espontânea vontade a cooperar?”
Ele teme que possa se perder definitivamente o material probatório apreendido. E pergunta: Por que essa censura?” .
Barreiro assegura que nem pensava publicar o que escreveu sem antes ter um aval do próprio filho de João Goulart.
E finaliza a carta afirmando para João Vicente: “Sabe que não estou mentindo! Seu pai, João Goulart, foi assassinado! Estou disposto a submeter-me a todo tipo de polígrafo detector de mentiras e até avaliações psiquiátricas se for preciso. Só espero que seja antes de que algum sicário dos norte-americanos me elimine”.
Na denúncia que tinha feito sobre o assassinato de João Goulart, Barreiro explicou que o presidente teria sido envenenado quando se encontrava em uma das propriedades em Mercedes, na Argentina, com um tipo de cloreto desidratado transformado em comprimido, que acelerava a pressão sanguínea.
O veneno, segundo ainda Barreiro, teria sido colocado em meio aos medicamentos de João Goulart que tinha problemas cardíacos e recebia remédios especiais vindos diretamente da França.
Esse veneno acelera o fluxo sangüíneo, provocando hipertensão e posteriormente um derrame ou enfarte.
Os vestígios do veneno só ficam no organismo durante 48 horas, o que se explica o fato de as autoridades na época terem proibido a autopsia.
Documentos sobre João Goulart encontrados nos arquivos do extinto Serviço Nacional de Informações comprovam que havia agentes infiltrados na fazenda em Mercedes que tiveram acesso até mesmo a documentos pessoais como uma carta de Juan Domingo Perón ao ex-presidente brasileiro e a subtraíram clandestinamente. Nos arquivos, agora em poder de João Vicente, entregues a João Vicente por Dilma Rousseff, Ministra Chefe da Casa Civil, podem ser encontrados também um relato e até mesmo fotos de uma festa de aniversário, em 1975, de João Goulart, o que é uma prova concreta de que o presidente era também monitorado pelos órgãos de segurança brasileiros.
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