Por que Cuba deve rejeitar reintegrar-se à OEA

Organismo, desmoralizado enquanto instrumento do imperialismo dos EUA, legitimou invasões, assassinatos políticos, golpes de Estado e campanhas de desestabilização contra governos democráticos na América Latina. A OEA foi cega, surda e muda frente às atrocidades do “terrorismo de Estado” auspiciado pelos norte-americanos e ante políticas criminosas, como o Plano Condor, que matou e torturou estudantes e trabalhadores na Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai

O escritor argentino Atílio Boron (foto), doutor em Ciência Política pela Universidade de Harvard e professor titular de Teoria Política na Universidade de Buenos Aires, ao defender a extinção das Organização dos Estados Americanos (OEA), justifica o fato de Cuba haver rejeitado o convite para reintegrar-se ao organismo, do qual o país foi alijado há 47 anos, em 1962, por ordem do ex-presidente John Kennedy.
"A OEA é insanamente anacrônica e por isso mesmo disfuncional: representa mundo que já não existe senão nos delírios dos nostálgicos da Guerra Fria e por isso não pode fazer nenhuma contribuição para enfrentar os desafios de nosso tempo. Depois de ter revogado a resolução de 1962, que afastou Cuba, faria grande serviço à humanidade se decidisse auto-dissolver-se", afirmou Boron.
O professor da Universidade da Buenos Aires enumerou três argumentos para fundamentar a opinião.
Primeiro: a revogação da resolução de 1962 é sintoma das grandes mudanças que vêm ocorrendo no panorama sociopolítico da América Latina e do Caribe nos últimos anos e cujo signo diferenciador é a persistente erosão da hegemonia estadunidense na região e revela a magnitude das transformações em curso e que a Casa Branca aceita a contragosto.
Desse modo, repara-se – se bem que tardia e parcialmente – decisão de imoralidade manifestada e que tem pesado de forma intolerável sobre a OEA e sobre os governos que, com seus votos, ou sua abstenção, facilitaram os planos do imperialismo estadunidense.
Este imperialismo, ao não poder derrotar militarmente a Revolução Cubana, optou por erigir “cordão sanitário” para evitar que seus influxos emancipadores contagiassem os demais países da área. Intento que, por certo, fracassou rotundamente.
Segundo: o enfraquecimento da hegemonia dos EUA não significa que país renuncie à hegemonia.
Os EUA vão tentar manter o controle dos governos latino-americanos, apelando para outros expedientes.
Seria erro imperdoável pensar que o imperialismo ianque vá depor armas para relacionar-se com nossos países em pé de igualdade.
Pelo contrário: os EUA, ante o declínio de sua hegemonia, responderam com nada menos que a ativação da Quarta Frota, com o propósito de lograr pela força o que no passado obtinha pela submissão ou cumplicidade dos governos da região.
Obama não tem emitido o menor sinal de que pensa mudar essa política.
Terceiro: Cuba, assim como os demais países da América Latina, nada tem que fazer na OEA.
Essa instituição refletiu momento especial na evolução do sistema interamericano: a da absoluta primazia dos EUA.
Essa etapa já foi superada, e não há retorno.
A maturação da consciência política dos povos da região fez ainda com que governos muito afinados com a Casa Branca não tivessem outra opção a não ser enfrentar os EUA na condenação ao bloqueio de Cuba, ao revogar a decisão de 1962.
Diante dessa situação, a OEA está condenada por sua larga história como dócil instrumento do imperialismo: legitimou invasões, assassinatos políticos, magnicídios (alguns, como o de Orlando Letelier, perpetrados em Washington), golpes de Estado e campanhas de desestabilização contra governos democráticos.
Quando em maio de 2008 estourou a crise na Bolívia, o conflito foi rapidamente solucionado pelos países de América Latina sem que a OEA julgasse papel algum; não fez falta e não faz mais falta.
O que faz falta é fortalecer e conscientizar sem mais demora os diversos projetos de integração dos países da América Latina e do Caribe, como a Alba ou a Unasul, iniciativas distintas mas que expressam a realidade contemporânea da região.

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