Historiador judeu Ilan Pappe denuncia: "Israel quer completar a limpeza étnica dos palestinos’

Pappe: Israel não permitirá Estado palestino independente

Um dos principais historiadores israelitas, Ilan Pappe, professor de Ciências Políticas na Universidade de Haifa, foi obrigado a abandonar Israel, após repetidas ameaças de morte contra ele e sua família; hoje leciona na Universidade de Exeter, Inglaterra.
Ele defende o Estado da Palestina e faz parte da geração de pesquisadores israelitas que recusam a interpretação unilateral e oficial da história do seu país e é crítico desassombrado da política de Israel em relação aos palestinos

Entrevista à revista portuguesa Rubra
www.revistarubra.org


O trabalho do professor Ilan Pappe enquadra-se em geração de historiadores israelitas que, com base na abertura dos arquivos israelenses depois de 1978, começa a questionar a versão oficial da fundação de Israel.

Qual o sentido geral da partilha de 1947 e os subseqüentes acontecimentos de 1948?

Penso que o novo olhar sobre 1947/48 realça os aspectos injustos da resolução de partilha da ONU. A idéia de impor a repartição pela força a uma população nativa que constituía dois terços dos habitantes hoje não será aceita.
Hoje, nem seria possível tal idéia de dividir um país em duas partes quase iguais entre a população nativa e os colonizadores.
Durante anos tendemos a culpar os palestinos por recusarem essa solução injusta e nós, e também a comunidade internacional, continuamos propondo essas soluções... injustas.
Creio que hoje nós percebemos a magnitude do crime cometido contra os palestinos em 1948, a limpeza étnica, o silêncio do mundo e o fato de que o Estado de Israel continua tentando completar a total limpeza étnica dos palestinos.

O que o Sr. pensa dos acordos de Oslo e de outras negociações entre Israel e os palestinos?

Creio que os acordos de Oslo tiveram aspecto positivo, a legitimação da OLP. Exceto isso, foram como a resolução de partilha, imposição a partir do ponto de vista israelense contra os palestinos. Tinham as palavras corretas, mas elas apenas estavam de acordo com a interpretação de Israel, o que significou encontrar acordo que lhes permitia aprofundar a ocupação.

Foram desastrosos. Criaram expectativas onde não havia intenção de alterar a realidade miserável do lugar, ferindo profundamente a hipótese de paz e, em segundo lugar, lançando sementes para a divisão no campo palestino.

Por que Israel atacou Gaza?
Israel atacou Gaza por várias razões. Em primeiro lugar, depois da derrota no Líbano, em 2006, os generais acreditaram que vitória militar teria o êxito de impor medo aos países árabes.
Em segundo lugar, eles desejavam erradicar, à força, os movimentos que na região resistem, também pela força, a seus planos, como o Hamas.
E seu plano para Gaza em particular era mantê-la como prisão a céu aberto, com a esperança de que muitos palestinos abandonem suas terras ou se resignem a viver sob tais condições. Os israelenses não vão permitir que Gaza e Cisjordânia formem Estado livre e independente.

Qual é a situação dos palestinos israelitas?

Comprovou-se escalada nas ações do governo israelita contra a minoria palestina em Israel. Sua cidadania, bens e liberdade estão sob perigo crescente. A situação não é tão ruim como a dos palestinos na Cisjordânia, mas é para onde caminha.

Qual sua opinião acerca das manifestações ocorridas pelo mundo contra Israel durante o ataque a Gaza?
Acredito que marcam tendência crescente, em que amplos setores da opinião pública não aceitam mais as políticas criminosas de Israel. Porém, ainda não se traduzem em mudanças de política dos governos.

Qual foi a reação da comunidade judia, particularmente no país em que o senhor atualmente reside, a Inglaterra?

A comunidade judia estabelecida ainda é pró-Israel, porém, mais e mais indivíduos estão começando a se dissociar do sionismo e um número significativo está disposto a se tornar ativo na luta por justiça para os palestinos.


Aonde o senhor se posiciona no debate entre as chamadas soluções de "dois Estados" e de "um Estado" na Palestina?
Penso que não há realmente debate. A solução de "dois Estados" desapareceu para sempre, mesmo que ainda existam pessoas que pensem ser uma solução razoável. Creio que um Estado com cidadania igual para todos é a solução.
Agora temos um Estado que discrimina todos os palestinos que vivem entre o Rio Jordão e o mar. Eles são discriminados de diferentes formas, alguns sujeitos à ocupação e aos abusos diários, outros são assassinados e expulsos. Isso não é democracia e não pode continuar; se a situação persistir, será impossível acabar com o derramamento de sangue.

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