Crise agrava tráfico humano no Leste Europeu

Máfias de grande alcance internacional organizam o transporte e a venda de pessoas desesperadas por encontrar trabalho

Chauzy: tráfico de gente tornou-se negócio milionário

Pavol Stracansky
Da Inter Press Service (IPS)


Os traficantes de gente visam os que sabem estar mais necessitados e dispostos a fazer o que for por trabalho, afirmam organizações especializadas.
“A crise econômica tem graves consequências nos países onde os traficantes encontram pessoas pobres que querem emigrar a todo custo”, disse à IPS Jean-Philippe Chauzy, chefe de comunicações da Organização Internacional para as Migrações (OPIM), com sede em Genebra.
“Essas pessoas são vulneráveis”, acrescentou.

O tráfico humano tornou-se negócio internacional multimilionário.
Milhões de pessoas são vítimas deste crime, na maioria mulheres. Muitas são vendidas como escravas recrutadas por meio de anúncios de trabalho no exterior.
As redes de máfias internacionais que organizam o transporte e a “venda” de pessoas costumam apresentar-se como empregadores.

Com a desculpa de tramitar a autorização de trabalho, pedem à vítima o passaporte e as deixam sem sua única prova de identidade, e com a qual poderiam voltar ao seu país. Em seguida costumam drogá-las, espancar ou violar para dominá-las.
Os proxenetas costumam ameaçar as mulheres com hostilidade ou morte contra seus familiares se fizerem denúncias às autoridades locais.
Entretanto, a OIM disse que cada vez mais homens, especialmente nos países mais pobres com Bielorússia, são vítimas de traficantes que os submetem a trabalhos forçados, especialmente no setor da construção.
Cerca de 800 mil pessoas “desaparecidas” nesse país podem estar trabalhando na Rússia contra sua vontade. Nesse país não é ilegal os patrões reterem os passaportes de seus empregados.
Na Europa oriental, o tráfico humano não é um problema novo.
A OIM e as Nações Unidas estimam que 120 mil pessoas caem por ano em mãos de máfias dedicadas à exploração humana nesta região. Mas a crise econômica agravou a situação dos países mais pobres da Europa oriental.
“A pobreza aumenta os riscos de ser vítima do tráfico de pessoas”, disse à IPS Ludmila Tiganu, diretora do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) na Moldávia. Este país é o mais pobre da Europa e onde o problema é mais grave.
“O aumento da pobreza causa mais dificuldades aos setores mais vulneráveis da sociedade. Com a recessão também houve queda das remessas de dinheiro por imigrantes, somada ao aumento do desemprego”, afirmou.

Na Moldávia e em muitos países do Báltico, os traficantes rondam os bares e clubes noturnos e entram nos sites de conversação da Internet em busca de vítimas.
“O problema do tráfico se agrava e quanto mais durar a recessão mais pressão haverá sobre os pobres”, disse à IPS Chauzy, da OIM.
As organizações de defesa dos direitos das mulheres reclamam dos governos mais medidas.
As autoridades devem implementar de forma mais eficiente as leis existentes contra o tráfico de pessoas e devem ser criadas campanhas para divulgar os perigos deste crime. Várias investigações demonstraram que os cidadãos da Europa oriental são bastante conscientes sobre o que se passa, mas muito poucos acreditam estar em perigo, segundo a OIM.

“As leis devem ser aplicadas, sair do papel”, disse à IPS Iluta Lace, diretora da organização não-governamental Marta, da Letônia, que ajuda as vítimas do tráfico humano e da exploração a se reintegrarem na sociedade.
“As organizações não-governamentais devem receber dinheiro e ferramentas para combater esse crime. Na Letônia não há fundos disponíveis. Inclusive, uma pequena quantidade de dinheiro pode ser bem empregada com criatividade e ajudar a combater uma situação muito ruim e agravada pela crise”, afirmou Iluta Lace.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Buscar neste site: