Brasil e China ajudam África com dados e fotos de satélite

Imagens e informações, que serão recebidas nas estações de Ilhas Canárias, da África do Sul e do Egito, vão contribuir para que governos e organizações do continente africano monitorem desastres naturais, desmatamento, ameaças à produção agrícola e riscos à saúde pública

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva encerrou sua viagem à China, há duas semanas, com visita à Agência Chinesa de Tecnologia Espacial (CAST), onde conheceu o satélite sino-brasileiro Cbers -3.
No Brasil, os satélites são desenvolvidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
O Programa Sino-Brasileiro de Satélites de Recursos Terrestres (Cbers) é um dos exemplos mais bem-sucedidos de cooperação tecnológica entre países em desenvolvimento.
O protocolo pela continuidade e expansão do Programa Cbers oferece ao Brasil a recepção dos dados dos satélites chineses HJ-1A e HJ-1B na estação de Cuiabá, operada pelo Inpe.
Enquanto no Brasil a distribuição das imagens do Cbers cabe ao Inpe, na China a responsabilidade é da Cresda (China Centre for Earth Resources Satellites and Applications).
O acordo para a cessão de imagens, dados e informações dos satélites do programa sino-brasileiro a governos do continente africano ficou acertado durante a visita de Lula à China e passou a vigorar de imediato.
Com o Cbers, o Brasil passou a dominar a tecnologia para o fornecimento de dados de sensoriamento remoto.
Até então, o país dependia exclusivamente de imagens fornecidas por equipamentos estrangeiros.
A cooperação entre cientistas brasileiros e chineses no desenvolvimento de tecnologias espaciais resultou nos satélites Cbers-1 e Cbers-2, lançados respectivamente em 1999 e 2003 e atualmente inoperantes, e no Cbers-2B, colocado em órbita em setembro de 2007 e responsável por enviar imagens para as mais diversas aplicações, como monitorar desmatamentos e a expansão da agropecuária. Desde a assinatura do acordo de cooperação, em 1988, Brasil e a China já investiram cerca de US$ 350 milhões e atualmente o Brasil é um dos maiores distribuidores de imagens orbitais do mundo.
Em iniciativa pioneira, a política de acesso livre às imagens do satélite Cbers tem levado outros países, como os Estados Unidos, a disponibilizar dados orbitais de média resolução.
Para garantir o fornecimento ininterrupto de dados aos milhares de usuários conquistados pelo Cbers, o Brasil precisa manter e ampliar seu programa de satélites de observação da Terra.
Estão programados os lançamentos de mais dois satélites (Cbers-3 e 4) em 2011 e 2014.
E já se discute com a China o desenvolvimento de outros dois.
Além do fornecimento gratuito de imagens de satélite, que contribuiu para a popularização do sensoriamento remoto e para o crescimento do mercado de geoinformação brasileiro, o Programa Cbers promove a inovação na indústria espacial nacional, gerando empregos em um setor de alta tecnologia fundamental para o crescimento do País.
O Programa Cbers é exemplo bem-sucedido de cooperação Sul-Sul em matéria de alta tecnologia e é um dos pilares da parceria estratégica entre o Brasil e a China.
O Cbers é hoje um dos principais programas de sensoriamento remoto em todo o mundo, ao lado do norte-americano Landsat, do francês Spot e do indiano ResourceSat.

O Cbers fez do Brasil um dos maiores distribuidores de imagens de satélite do mundo.
Além dos usuários brasileiros, as imagens Cbers são fornecidas gratuitamente para todo e qualquer usuário.
Os países da América do Sul que estão na abrangência das antenas de recepção do Inpe em Cuiabá (MT) são os mais beneficiados por esta política.
O download gratuito das imagens é feito a partir do site do Inpe: www.inpe.br

Com o Cbers, Brasil e China passaram produzir dados e imagens de seus territórios a custo reduzido.
As informações ajudam na formulação de políticas públicas em áreas como monitoramento ambiental, desenvolvimento agrícola, planejamento urbano e gerenciamento hídrico.
Desde junho de 2004, quando ficaram disponíveis na internet, mais de meio milhão de imagens já foram distribuídas para cerca de 20 mil usuários, em mais de duas mil instituições públicas e privadas, comprovando os benefícios econômicos e sociais da oferta gratuita de dados.
Em média, têm sido registrados diariamente 750 downloads no Catálogo Cbers.

Na China, após a adoção de uma política similar à brasileira, foram distribuídas mais de 200 mil imagens, sendo o Ministério da Terra e de Recursos Naturais seu principal usuário.

Além do conhecimento tecnológico, o programa espacial também traz benefícios sociais.
As aplicações das imagens obtidas a partir dos satélites Cbers são as mais variadas, desde mapas de queimadas e desflorestamento da região amazônica, até estudos na área de desenvolvimento urbano nas grandes capitais do País.
Entre os usuários destacam-se órgãos como Petrobras, IBGE, Incra, Embrapa, Ibama e ANA, organizações não-governamentais e empresas de geoprocessamento.
O IBGE, por exemplo, usa os dados para atualizar seus mapas em projetos de sistematização do solo, assim como o Incra emprega as imagens nos processos ligados à reforma agrária.

As aplicações no setor agrícola e de monitoramento ambiental costumam causar maior impacto econômico e social devido às dimensões continentais do Brasil.
Sem ferramenta acessível, vigiar território tão extenso seria quase impossível.
O Catálogo de Imagens é a interface do sistema com os usuários.
Acessado através da Internet (http://www.dgi.inpe.br/CDSR/), permite a consulta e solicitação do acervo de imagens disponíveis. As imagens solicitadas são enviadas em poucos minutos, também pela Internet.

Os Cbers-1 e 2 são idênticos em suas constituições técnicas, missão no espaço e em suas cargas úteis (equipamentos que vão a bordo, como câmeras, sensores e computadores, entre outros voltados para experimentos científicos).

Os satélites foram dimensionados para atender às necessidades da China e do Brasil, mas também para permitir o ingresso de ambos os países no emergente mercado de imagens orbitais até então dominado pelos que integram o bloco das nações desenvolvidas.

Os dois primeiros Cbers tinham três câmeras: CCD (Câmera Imageadora de Alta Resolução), WFI (Câmera Imageadora de Largo Campo de Visada) e IRMSS (Imageador por Varredura no Infravermelho).

No Cbers-2B foi colocada câmera de alta resolução pancromática, a HRC, que produz imagens com 2,7 metros de resolução espacial, em substituição ao IRMSS, e foram mantidas as câmeras CCD, de resolução espacial de 20 metros, e WFI, com 260 metros de resolução.
Para os Cbers 3 e 4, a evolução será mais significativa, e tanto os imageadores como a própria estrutura do satélite serão mais sofisticados.
Nestes, serão utilizadas no módulo carga útil quatro câmeras com desempenhos geométricos e radiométricos melhorados. A órbita dos dois satélites será a mesma que a dos Cbers-1, 2 e 2B.

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