Até quando ficarão impunes os crimes do Estado de Israel contra os palestinos?

Operação Chumbo Derretido: rastros de sangue e ódio, em Gaza, após os assassinatos em massa nas instalações da ONU e os danos psicológicos permanentes na população sobrevivente
Sofrimento por 40 mortes de crianças em escola da ONU

Inter Press Service (IPS)

Detalhado relatório de 184 páginas denunciando o criminoso ataque de Israel contra edifícios da Organização das Nações Unidas (ONU), no território palestino de Gaza foi divulgado em Nova York, segundo o repórter Thalif Deen, da IPS.
A comissão responsável pelo relatório, integrada por Ian Martin, Larry Johnson, Sinha Basnayake e pelo tenente-coronel Patrick Eichenberger, reuniu informação sobre os nove ataques mais graves contra funcionários e instalações da ONU em Gaza durante a Operação Chumbo Derretido, lançada por Israel entre 27 de dezembro e 19 de janeiro.
A IPS acrescentou que a ofensiva, segundo a comissão, incluiu artilharia pesada, bombardeio aéreo e ações terrestres, resultando nos mais 1,4 mil mortos e cinco mil feridos, a maior parte das vítimas eram civis e crianças, números que horrorizaram o mundo e causaram protesto de muitos países contra o Estado de Israel.
Para a comissão, o quadro foi mais dramático e cruel porque os israelenses bombardearam vários edifícios da ONU, inclusive dependências escolares, assassinando dezenas de inocentes civis e crianças.
A comissão afirmou que “não se pode aceitar que foram feitos os esforços nem que tenham sido tomadas as precauções necessárias para cumprir as responsabilidades do governo sionista sobre a inviolabilidade e a não interferência com instalações da ONU e a proteção dos civis e objetivos civis dentro de seus locais”.
Acrescentou que o exército de Israel "agiu com diversos graus de negligência e imprudência em relação às instalações da ONU e à segurança de seus funcionários e outros civis que se encontravam nelas".
Quanto à escola de Jabalia da Unrwa, a comissão concluiu que “as precauções que o exército israelense possa ter tomada quanto às instalações da ONU foram inadequadas. A responsabilidade pelos civis assassinados e feridos fora da escola deve ser analisada pelas normas e pelos princípios do direito humanitário internacional, e requer investigação específica”, diz a comissão.
Bombas que caem como chuvas matam inocentes
Zumbido de abelhas e bombardeios aéreos

Em reportagem assinada por David Cronin, a IPS mostra outra consequência do criminoso ataque a Gaza: os moradores da faixa junto ao Mediterrâneo usam o termo “zanana”, que significa zumbido em árabe, para descrever o som dos bombardeios aéreos israelenses, constante em suas vidas.
O humor negro de comparar aviões de guerra com abelhas parece mostrar que as pessoas do território palestino conseguem sobreviver à ocupação, que dura mais de quatro décadas. Mas os aviões recordam-lhes seu pior pesadelo: as bombas que caem como chuva.
A devastação causada pela Operação Chumbo Derretido é visível em várias partes desta cidade.
No bairro de Izbet Abed Rabo, rebanho de cabras caminha por rua onde só o que resta das casas são blocos de concreto e vigas amontoadas.
O único abrigo para os moradores das casas arrasadas são as barracas de campanha brancas fornecidas por diferentes agências da ONU.
Doadores internacionais prometeram centenas de milhões de dólares na conferência que realizaram no balneário egípcio de Sharm El-Sheij, em março, a fim de transformar esta paisagem apocalíptica em lugar para que as pessoas desalojadas possam viver com mínimo de dignidade.
Mas os trabalhos não começaram porque Israel proíbe a entrada de materiais imprescindíveis para a construção.
As consequências psicológicas do ataque são menos evidentes, mas os resultados preliminares de estudo do programa de Saúde Mental da Comunidade de Gaza, ainda não concluído, indicam que pouquíssimas pessoas, se é que existe alguma, saíram ilesas.
Dos 374 meninos e meninas, entre 6 e 16 anos, entrevistados para o estudo, mais de 73% disseram que pensavam que morreriam no ataque.
Quase 68% disseram acreditar que haveria outro ataque e 41% expressaram um forte desejo de vingança. Quanto aos adultos entrevistados para esse mesmo estudo, 69% dos pais e 75% das mães consultadas foram diagnosticados com estresse pós-traumático.
Entre os sintomas observados, 59% dos adultos ouvidos disseram ter medo da morte, metade deles temia morrer de ataque cardíaco e cerca de 15% temiam contrair câncer pela exposição a armas químicas como o fósforo branco.
Além disso, 82% dos pais e mães responderam que seus filhos estavam mais agressivos depois do ataque israelense e 52% disseram que os filhos apresentavam problemas emocionais. “Todo mundo perdeu alguma coisa na guerra”, disse à IPS o porta-voz do Programa de Saúde Mental da Comunidade de Gaza, Hussan El-Nunu.
“Alguns perderam amigos e conhecidos, outros perderam partes do corpo e há quem perdeu dinheiro e propriedades, e também há os que perderam a sensação de segurança e proteção. É um sentimento muito forte. Nunca senti a morte tão próxima como durante o último ataque. Não tinha para onde fugir”, afirmou.
Caricatura presa em parede do escritório de imprensa do governo de Israel em Jerusalém pretende ilustrar a versão oficial, repetida exaustivamente, de que o Estado judeu tem o exército com os melhores valores éticos do mundo. De um lado da fronteira há general israelense que repreende subalterno recalcitrante, e do outro lado há combatente de organização islâmica que faz o mesmo com um subalterno.
O primeiro diz: “havia uma família, como pôde disparar?”.
O segundo diz: “Havia uma família, como conseguiu errar?”. Mas a caricatura israelense não reflete em nada o sentimento majoritário dos moradores de Gaza a respeito de Israel, que acusam de não tomar as devidas precauções para garantir a segurança dos civis.
O estudante de engenharia Majed Abu Salama contou que amigo de sua família foi morto após sair de sua casa em tarde em que Israel havia prometido um cessar-fogo temporário.
“Foi morto com foguete quando suas filhas e a mulher estavam em minha casa. Foi horrível”, disse Salama.
Antes do ataque já era difícil para a maioria dos habitantes de Gaza atender suas necessidades básicas. Em 2006, pouco depois da surpreendente vitória do Hamas (Movimento de Resistência Islâmica) nas eleições legislativas palestinas de janeiro, assessor do governo israelense, Dov Weisglass, disse que os moradores do território tiveram “encontro com um nutricionista para emagrecerem muito, sem morrer”.
Em 2008, Israel estabeleceu duro bloqueio econômico e restringiu a entrada de produtos de primeira necessidade e de pessoas que trabalhavam em Israel, depois que o Hamas tomou pelas armas controle deste território em junho de 2007.
A pobreza e os números do desemprego aumentaram de forma significativa. Tudo isso afetou psicologicamente as pessoas.
A maioria dos palestinos de Gaza precisa de cuidados psicológicos, segundo Khalil Abu Shammala, diretor da Associação de Direitos Humanos Al-Dameer.
“É evidente quando se caminha pela rua e se olha as pessoas nos olhos”, afirmou.
“É preciso entender que os habitantes de Gaza sofrem há três anos o assédio israelense. Ninguém pode viajar e não é possível cobrir as necessidades básicas da população. Muitas famílias não têm dinheiro suficiente para dar leite aos filhos”, disse Shamala.
“Conheço muitos pais que saem cedo de casa e voltam tarde da noite para não ouvirem os filhos pedindo um sheqel (cerca de US$ 0,24), que não têm para lhes dar”, acrescentou.
Perto do que resta da sede do Conselho Legislativo Palestino, bombardeado no início da Operação Chumbo Derretido, Nahed Wasfy Wshah perguntava aos estrangeiros se podia pedir asilo em seus países.
“Meus filhos e minhas filhas continuam com medo. Às vezes acordam gritando à noite nos pedem: papai tire a gente daqui, sempre haverá guerra aqui”.

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