Bancos suíços prosseguem na luta contra o fim da conta secreta

Na segunda guerra, o sistema financeiro do país dos Alpes lucrou bilhões de dólares, com a morte de milhares depositantes, sobretudo judeus, cujas contas sigilosas ficaram sem dono; agora, o segredo bancário encobre capitais de ditadores de todo o mundo e de europeus sonegadores de impostos, além de esconder fabulosas fortunas de governantes corruptos estrangeiros, narcotraficantes e criminosos do colarinho branco

Rui Martins, de Berna, Suíça
Autor do livro Dinheiro Sujo da Corrupção


O segredo bancário suíço está por um fio, mas esse fio é resistente, e os banqueiros e governo suíços fazem de tudo para que, mesmo em coma e bastante diminuído, o segredo bancário não seja eutanasiado.
Os banqueiros suíços descobriram a galinha de ovos de ouro, que transformaria seus cofres em verdadeiras Cavernas de Ali Babá, nos anos 30, quando a ascenção do nazismo alemão levava muita gente a procurar um lugar seguro para esconder seus capitais, diante do risco de guerra.
Muitos bancos iam adotando o sigilo total sobre as contas, mas tentativa de quebra do segredo por via judicial levou o governo suíço a criar, em 1934, emenda constitucional reconhecendo o segredo bancário.
Foi a descoberta da mina.
O primeiro grande lucro foi com a Segunda Guerra. Numerosos depositantes, a maioria judeus perseguidos pelos nazistas, morreram na guerra, e as contas ficaram sem dono.
Conta-se que o cinismo dos banqueiros foi tanto que, para muitos herdeiros de judeus mortos no Holocausto, que iam à Suíça buscar o dinheiro ali escondido por seus pais, chegavam a pedir “atestado de óbito de Auschwitz”.

A seguir, enriquecidos com tantas contas sem herdeiros, surgiu outra utilidade para o segredo bancário – encobrir os capitais enviados à Suíça por uma série de ditadores de todo o mundo.
Milhões e mesmo bilhões, como os da família Abacha do ditador nigeriano, foram empilhados nos cofres dos bancos suíços e quando descobertos acabavam se beneficiando dos longos processos judiciais.

A seguir, surgiu outra mina provocada pelo segredo bancário – os europeus mais abastados, vivendo nos países vizinhos da Suíça, passaram a servir-se da chamada evasão fiscal para não pagar o imposto de renda e o imposto sobre fortuna.
E os bancos suíços foram engordando a ponto de abrigarem, antes da atual crise, 3 bilhões de euros.
Essa soma astronômica, com a crise e as ameaças de quebra do segredo bancário diminuiu para 2,1 bilhões de euros.

Grande parte é proveniente da corrupção de governantes estrangeiros, do narcotráfico, do crime financeiro e as contas servem para a lavagem de dinheiro.
Nesta primeira semana de abril, o grupo G20, do qual faz parte o Brasil, vai elaborar a lista negra dos paraísos fiscais.
Para não cair nessa lista, que irá prever sérias sanções, a Suíça já anunciou aceitar o parâmetro da OCDE em matéria de contas bancárias, pelo qual não existe distinção entre evasão fiscal e fraude fiscal.
Até agora, a Suíça não aceitava nenhum processo por dinheiro fugido do país de origem para escapar ao fisco.
Porém, mantém o princípio da ajuda judiciária caso por caso.

Até hoje, estão bloqueados na Suíça alguns milhões do ex-governador e ex-prefeito Paulo Maluf.
Tentativa da Justiça paulista de incluir evasão fiscal junto com o pagamento de comissões por obras públicas foi rejeitada pela Suíça e, se o Brasil continuar fazendo corpo mole, o bloqueio da fortuna de Maluf (parte foi desviada para a Ilha de Jersey, onde também está bloqueada) chegará a dez anos e, não havendo condenação expressa no Brasil, haverá o desbloqueio com a devolução do dinheiro à família Maluf.

Qual será a posição do Brasil neste encontro do G20?
Exigir da Suíça o fim total do segredo bancário ou deixar seguir escondidas as contas de tantos políticos, milionários e militares da época da ditadura?

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