Cresce a mobilização para levar Bush e Blair a julgamento internacional por genocídio

Família retirada de casa por soldados invasores

Deverão ser investigados ataques contra civis com o uso de napalm, de bombas de fragmentação e de armas contendo urânio depletado; as prisões ilegais; torturas de civis em Abu Graib e Guantánamo; transporte de prisioneiros entre países; extorsões através da guerra e demais violações às Convenções de Genebra, aos Princípios de Nuremberg e à Carta da ONU

Da redação

O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, ao afirmar à rede de televisão ABC News que seu maior arrependimento, em oito anos de governo, foi ter invadido o Iraque a partir de informação falsa de que o país teria armas de destruição em massa, fortaleceu e ampliou o movimento internacional para levá-lo, juntamente com o ex-primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair, a julgamento internacional.
O procurador-geral do Tribunal Penal Internacional (TPI), o argentino Luis Moreno Ocampo, afirmou ser possível que o Bush e Blair sejam processados pelos crimes cometidos no Iraque.
Moreno, que se dispôs a coordenar investigação nesse sentido, pediu aos países árabes, principalmente ao Iraque, que reconheçam o tribunal, para que seja possível a apresentação de denúncia.
Segundo o procurador-geral, Blair e Bush devem sentar-se algum dia no banco do Tribunal de Haia para responder por seus crimes: "o país que aderiu ao Tribunal sabe que qualquer um que cometa delito em seu território pode ser processado".
O embaixador iraquiano na Organização das Nações Unidas (ONU), Hamid al-Bayati, disse que o Iraque planeja aderir ao Estatuto de Roma, que estabeleceu o Tribunal Penal Internacional, do qual é membro o Reino Unido, mas não os Estados Unidos, que rejeitam a jurisdição do Tribunal.
Moreno expressou frustração com o fato de alguns países muçulmanos verem o Tribunal como favorável aos interesses ocidentais, a ponto de o ex-primeiro-ministro da Malásia, Mahathir Mohamad, ter anunciado planos para a constituição de tribunal alternativo.
Mohamad disse, em conferência sobre crimes de guerra, que o mundo deverá lembrar-se de Bush e Blair como "genocidas, assassinos de crianças e mentirosos".
Segundo Mohamad, Bush e Blair recorreramm às guerras em função de sua ideologia e agenda política por isto "são criminosos comuns e devem ser etiquetados e punidos como tais", enfatizou.
Moreno afirmou que será melhor se os países árabes aderirem ao tribunal, em vez de criarem fórum alternativo, como proposto por Mohamad.
"O Tribunal Penal Internacional pode abrir investigação de imediato, sem burocracia, se a ONU pedir, ou se país-membro apresentar solicitação neste sentido", afirmou ele.
O Prêmio Nobel da Literatura de 2005, o dramaturgo britânico Harold Pinter, afirmou que Bush e Blair devem ser julgados no Tribunal Penal Internacional por "ato de terrorismo de Estado no Iraque".
Pinter, hospitalizado devido a câncer, gravou a mensagem, criticando a política externa dos EUA desde a II Guerra Mundial, bem como a da Grã-Bretanha, que chamou de "patético cordeirinho sob mando dos EUA".
A poderosa ONG norte-americana Answer (sigla em inglês da organização que congrega centenas de movimentos, nos EUA, contra guerras e racismo) lidera o que chamou de tarefa histórica para investigar como a administração de Bush violou a lei internacional e os direitos humanos por instigar guerra de agressão contra o povo iraquiano e estabelecer brutal ocupação do país.
Segundo a Answer, o Tribunal Penal Internacional contará com o depoimento de testemunhas do Iraque, delegações de 12 países, especialistas, oficiais da ONU e militares da resistência.
“O Tribunal irá investigar ataques contra civis, o uso de napalm, bombas de fragmentação e armas contendo urânio depletado; a prisão e tortura ilegais de civis na prisão de Abu Graib, Guantánamo e em outras localidades e a extorsão praticada através da guerra. Será mostrada a culpa de Bush pela deterioração da economia do Iraque, sua infra-estrutura e serviços sociais; e irá demonstrar a todos as violações das Convenções de Genebra, os Princípios de Nuremberg e a Carta da ONU”, enfatizou a organização norte-americana.
"O crime liderado por Bush e Blair de invadir e ocupar o Iraque, matando inocentes, está em curso e tem sido agressão política e militar das mais infames da história moderna, agressão esta que passou por cima tanto de todos os códigos morais da humanidade como do direito internacional", afirmou a Answer.
Os EUA e Grã Bretanha lideraram invasão a uma das civilizações mais antigas do mundo: o Iraque, com 6 mil anos de história, é berço das civilizações, lugar onde se escreveu a primeira carta, onde se estabeleceu a primeira lei, onde se construiu a primeira universidade, onde se utilizou a primeira moeda, onde se criou o primeiro sistema de irrigação, onde se escreveu o primeiro poema.
Iraque foi submetido a destruição sistemática.
Os países que invadiram a região, sob o comando dos EUA e da Grã Bretanha, desmantelaram o Estado iraquiano, aboliram as instituições, destruíram os sistemas educativo, sanitário, econômico, de segurança e de infra-estrutura; destruíram completamente o tecido social e cultural.
Mais de 1,5 milhão de civis iraquianos morreram, incluindo crianças, homens e mulheres idosos; mais de cinco milhões se refugiaram fora do Iraque ou tiveram que sair de seus lares (deles, um milhão e meio são crianças), centenas de milhares (incluindo 10.000 mulheres) estão prisioneiros e expostos aos piores tipos de tortura e de humilhação, e carecem de qualquer procedimento legal.
Mais de 70% dos iraquianos estão sem acesso a água saudável; o fornecimento de eletricidade está caótico; 43% da população vive com menos de meio dólar ao dia.
O Iraque, sob administração norte-americana, está entre os três países mais corruptos do mundo e número de desempregados chega a 70%.
A desnutrição infantil no país generalizou-se e, segundo a ONU, oito milhões de iraquianos necessitam ajuda de emergência.

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