Operação Atlântico: Marinha prepara defesa do pré-sal

Quarta Frota dos EUA e controle pela Halliburton de dados sobre as atividades de pesquisa e exploração de petróleo no País tornam urgente exercício militar brasileiro no Atlântico

A custo de R$ 20 milhões, exercício militar, denominado Operação Atlântico, que poucos países têm capacidade de fazer, será realizado neste mês de setembro na região das recentes descobertas de gás e óleo do pré-sal, simulando situação de confronto em que a infra-estrutura da indústria petrolífera do Brasil será alvo de inimigo fictício.
Em meio à reativação da Quarta Frota da Marinha dos EUA e ao fato de estar sob controle, desde 2001, da empresa norte-americana Halliburton o gerenciamento do Banco de Dados de Exploração e Produção (BDEP) da Agência Nacional de Petróleo (ANP), o exercício militar brasileiro no Atlântico assume dimensão especial.
Um dos principais objetivos, segundo um dos oficiais que coordena a operação, é mandar claro sinal de que o Brasil está pronto para defender-se; outro será dimensionar as necessidades de investimentos para equipar a Marinha de modo a realmente controlar a vasta área, que se estende por 800 quilômetros, do Espírito Santo a Santa Catarina, e contém bilhões de barris de óleo equivalente (boe).
O pré-sal, camada do subsolo marinho de cinco a sete quilômetros de profundidade, sequer teve seu potencial petrolífero detectado completamente.

Mas os reservatórios já dimensionados, pequena fração do total, permitem supor reserva entre 70 bilhões e 90 bilhões de barris de óleo equivalente.
Na hipótese mais realista, essas reservas elevariam o cacife brasileiro para 104 bilhões de barris, apenas 10% abaixo do Iraque, segundo maior potencial do planeta. A produção diária brasileira, nesse caso, poderia evoluir dos atuais 2 milhões para até 10 milhões de barris, gerando exportações de até US$ 100 bilhões anuais a partir de 2020. "Será investimento. É como se fosse seguro", disse o almirante Edlander Santos, subchefe de operações do Comando de Operações Navais da Marinha, força que comandará o exercício bélico.
"Normalmente todos fazem seguro do carro e não fazem seguro da casa. Esse é o seguro da casa", acrescentou.

Serão mobilizados nove mil militares, cerca de 20 navios, entre 40 e 50 aeronaves, submarinos, número expressivo de lanchas e 250 viaturas militares, entre caminhões de transporte, blindados e carros de combate. Mas a manobra não contará com porta-aviões.

Segundo o almirante Edlander, serão feitas diversas simulações durante a manobra militar.

"Nós teremos ataques a pontos centrais da infra-estrutura logística localizados na área de Macaé (RJ) e de São Sebastião (SP). Teremos a defesa das três bacias petrolíferas. Isso é grande exercício envolvendo as outras forças, não só no mar, mas também gasodutos, oleodutos, pontos estratégicos", disse ele.

Manobra como a Operação Atlântico não é corriqueira, por conta de sua magnitude. Em 2007, lembrou o militar, foi realizado exercício de defesa do setor petrolífero, mas concentrou-se na área de Campos.
"A descoberta do pré-sal foi feliz coincidência. Nós já tínhamos decidido ampliar o exercício e veio a descoberta do pré-sal", disse.
No planejamento da manobra, segundo o alimirante, já foram detectadas algumas carências que precisam ser resolvidas.

"Nós precisamos incrementar a aquisição de navios-patrulha. Estamos construindo alguns poucos. Para você ter idéia, especificamente para a defesa das plataformas, nós precisamos de 27 novos navios-patrulha", disse o almirante.

A Marinha trabalha na construção de duas dessas embarcações e já projetou a fabricação de outras cinco.

Segundo Edlander, a Marinha está em negociações com a Petrobras para uma parceria na qual a estatal colaboraria na aquisição dos equipamentos.
Recentemente, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, defendeu a liberação de recursos que são destinados à Marinha, oriundos dos royalties do petróleo, mas que ficam contingenciados pelo governo federal.
O comandante da Marinha, almirante Júlio Soares de Moura Neto, reconheceu a atual fragilidade naval militar do país.
Em meio à reativação da Quarta Frota da Marinha dos EUA, Edlander procurou minimizar o fato e disse que o recado que o Brasil quer enviar com o exercício não tem destinatário específico.
"O Brasil não possui provável contestador, provável inimigo", disse. Mas para ele, é importante fazer sinalização porque ela evita o surgimento de desafiante.
"Dentro da visão moderna de planejamento você emite sinal à comunidade internacional, emite sinal a todos: 'estou pronto, estou preparado'".

Halliburton
A Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet) acionou o Ministério Público Federal para questionar contrato firmado pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) com a empresa norte-americana Halliburton, que já foi presidida pelo vice-presidente dos EUA, Dick Cheney, e é alvo mundial de protestos por conta de obras bilionárias no Iraque.
A Landmark Digital and Consulting Solutions, subsidiária da Halliburton no Brasil, é responsável pelo gerenciamento do Banco de Dados de Exploração e Produção (BDEP) da ANP desde 2001.

O BDEP é o principal banco de dados sobre as atividades de pesquisa e exploração de petróleo no país.
Reúne todas as informações coletadas pela Petrobras e por empresas privadas em bacias, campos e poços.
Esse acervo ficou ainda mais valioso depois da descoberta do campo de Tupi, anunciado em novembro do ano passado e que descortinou um imenso potencial de exploração na costa brasileira.
Só para Tupi, são estimadas reservas de até 8 bilhões de barris.

No BDEP, ficam armazenados os dados de sísmica (que indicam o caminho para a perfuração e a localização dos reservatórios de petróleo) e as informações relativas aos métodos usados nas pesquisas.
As empresas são obrigadas a enviar esses dados à ANP. Muitas dessas informações são sigilosas - a divulgação só é permitida após determinado prazo, que pode chegar a cinco anos, dependendo da informação.

"Sempre questionamos esse contrato, mas agora, com a descoberta do pré-sal, o acesso aos levantamentos feitos pela Petrobras passa a ser questão crucial. É resultado de 30 anos de pesquisas. E não sei se essa informação está segura sendo administrada pela Halliburton", diz Fernando Siqueira, diretor da Aepet.
A guarda das informações sobre exploração de petróleo pela ANP foi determinada pela lei 9.748, de 1997, que quebrou o monopólio da Petrobras e abriu o mercado para atuação de empresas privadas.
Em 2000, a ANP criou o BDEP, que armazena dados "pesados", como os obtidos por levantamentos sísmicos.
São informações que exigem grande capacidade de processamento e armazenamento.

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