Medicamento é apropriado também para a administração em pacientes com doenã em estágio avançado
Gerardo Arreola
La Jornada
Depois de investigação de 16 anos, Cuba confirmou a eficácia de vacina terapêutica para o tratamento do câncer de pulmão, capaz de prolongar e melhorar a vida de pacientes em etapa avançada.
A notícia é indício animador para milhões de pessoas no mundo que padecem não só deste mal, mas de câncer na próstata e na mama, informaram integrantes da equipe científica.
O produto injetável Cimavax EGV é agora uma das quatro vacinas terapêuticas contra o câncer que têm registro sanitário.
No entanto, trata-se da primeira destinada especialmente ao câncer do pulmão ao contrário de outras três, desenvolvidas respectivamente por Austrália, Canadá e Rússia, que são genéricas.
O câncer de pulmão é um dos tipos mais comuns e mortais do mundo.
Em 1995, a equipe cubana começou os ensaios clínicos, informou a coordenadora do projeto, doutora Gisela González, do Centro de Immunología Molecular (CIM). Depois de sete ensaios de fase 2 (em escala de 4), realizados em Cuba, Canadá e Inglaterra, ficou demonstrado que a vacina não causa efeitos colaterais severos ao contrário dos outros tratamentos, como a quimioterapia e a radioterapia, nem compromete a vida do paciente.
A vacina provoca resposta do organismo e diminui o crescimento dos tumores, segundo a reação de cada pessoa.
Assim, aumenta a expectativa de vida dos pacientes com qualidade de vida, em alguns casos em até 20 meses, detalhou a especialista.
Os resultados das pesquisas mostram que, após a administração da vacina, o paciente experimenta cada vez menos “falta de ar, que chega a desaparecer em algumas ocasiões assim como a dor. Ocorre também ganhos de peso, melhoras de apetite e a pessoa pode caminhar sem se sentir esgotada. E tudo isso vai aparecendo de forma progressiva”, informou Elia Meninger, pesquisadora principal de oncologia do hospital cubano Hermanos Ameijeiras.
O Centro para o Controle Estatal da Qualidade dos Medicamentos, a autoridade regulatória de Cuba, outorgou o registro sanitário para a vacina em 12 de junho.
O Cimavax EGF é também a primeira vacina terapêutica registrada em Cuba.
O produto já pode ser comercializado.
Estão em curso outros dois ensaios clínicos em fase 2 – um em Cuba e outro na Malásia – para casos de câncer de próstata e pulmão.
Outro, de vacina para pulmão, está em fase 3 em dois hospitais cubanos e há projetos para ensaios deste nível serem realizados neste ano na China, na Malásia e no Peru.
Até o momento, cerca de 400 pacientes já recebem a vacina além de seguir com os tratamentos convencionais (quimioterapia ou radioterapia).
Alguns países da América Latina, como o Peru, aceitam o registro de Cuba para comercializar fármaco.
As exportações poderão começar imediatamente.
Já outros países da região, como Brasil, China e Malásia, preferem fazer seu próprio ensaio clínico antes de iniciar processo de aquisição.
Cuba irá vender o Climavax EGF por meio das empresas que adquiriram a licença: várias companhias pequenas na América Latina, uma empresa da Malásia (Bioven) para a Europa e Sudeste Asiático, e uma canadense (YM BioScience) para a América do Norte.
Em 2002, depois de negociação que facilitou acordo de exceção ao bloqueio comercial dos Estados Unidos contra Cuba, a empresa estadunidense Cancervax adquiriu a licença para distribuir a Climavax EGF em seu país.
Mas a companhia quebrou e vendeu seus direitos a empresa alemã que, por sua vez, repassou às atuais licenças de Malásia e Canadá.
A autorização para que a vacina fosse vendida nos Estados Unidos foi expedida pela Oficina de Controle de Ativos Estrangeiros do Departamento de Tesouro e está vigente, recordou a doutora González.
A venda poderá ser realizada pela titular da licença para a área, a YM BioScience. Vacina impede crescimento dos tumores.
A doutora Gionzález explicou que a vacina está integrada pela proteína fator de crescimento epidérmico (EGF, siglas em inglês), unida a outra proteína, a P64. Ambas são produzidas no GIGB por via recombinante (sucessivas combinações genéticas de laboratório), a primeira é extraída de levedura e a outra de bactérias.
A ação de ambos elementos provoca a geração de anticorpos no organismo do doente, impedindo a proliferação celular característica dos tumores.
A investigadora expôs que o EGF circula no sangue humano. Quando ele se une a um receptor na membrana da célula, produz "sinais" no núcleo dessa célula.
Com esse fenômeno, se desencadeiam reações que levam à proliferação celular. "Uma das principais características dos tumores malignos é que eles proliferam de maneira descontrolada", assinalou a chefe do projeto.
A vacina, por sua vez, "provoca resposta imune em forma de anticorpos, os quais se juntam ao EGF, e assim impedem a união ao receptor da membrana. O que faz é, precisamente, evitar que ocorra a proliferação celular, impedir o crescimento dos tumores", segundo a equipe.
O registro foi decidido em resposta ao expediente de um dos ensaios concluídos da fase 2.
Foram analisados 80 pacientes de câncer de pulmão avançado (etapas 3-B e 4, na escala de quatro), a metade dos quais foram tratados com a vacina.
Ficou demonstrado, disse a doutora González, que a vacina provocava resposta imune e diminuição dos níveis de EGF.
Os pacientes vacinados conquistaram sobrevivência média de 20 meses, contra oito dos não receberam a vacina, que continuaram com seu tratamento convencional.
A médica Tania Crombet, diretora dos estudos clínicos. disse que os estudos foram realizados com pacientes cujo padecimento estava em fase muito desenvolvida, entre outros fatores, porque 70% dos casos de câncer de pulmão são diagnosticados em etapas avançadas.
Cerca de 30% dos doentes são diagnosticados em etapas iniciais (1, 2 o 3-A), quando ainda pode haver cura mediante tratamento tradicionais.
Nesses casos, "nossa vacina pode ser aplicada com o propósito de incrementar a sobrevida do paciente, mas o objetivo maior é o câncer de pulmão avançado".
A médica explicou que, embora a vacina esteja destinada a esse tipo de câncer "é potencialmente útil em outras neoplasias", como nos casos de cabeça e pescoço, estômago, mama, reto, cólon, pâncreas, ovários, vesícula, próstata e cólo de útero.
O paciente protótipo da vacina, disse doutora Meninger, é de "tratamento de câncer de pulmão de células pequenas em estados avançados, 3-B e 4, não tributários de tratamento de intenção de cura".
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