Luta operária globaliza-se: trabalhadores norte-americanos e ingleses criam central única sindical

Intenção é aumentar pressão para impedir a perda de empregos, bem como seu traslado para países onde se paga salários menores e onde operários têm menos proteção

Derek Simpson: sindicato global para negociar eficazmente e de igual para igual com as muitas empresas globais



Abid Aslam

Da agência Inter Press Service


Trabalhadores do Aço Unidos (USW), dos Estados Unidos, com um milhão de filiados, e Unite the Union, a maior central sindical da Grã-Bretanha, com mais de dois milhões de associados, anunciam neste mês sua fusão, jogando por terra a crença de que os negócios são globais e o trabalho preocupação apenas local.
A intenção é aumentar a capacidade de pressão para impedir a perda de empregos ameaçados pela globalização econômica, bem como seu traslado para países onde se paga salários menores e onde os trabalhadores têm menos proteção.

O novo sindicato reunirá mais de três milhões de trabalhadores da indústria manufatureira, do transporte, da energia e do setor estatal britânico e norte-americano, com ramificações na Irlanda, no Caribe e Canadá.
O processo deverá no futuro integrar sindicatos da América Latina, Europa oriental e Ásia, segundo porta-vozes das organizações envolvidas.
“Necessitamos de um sindicato global para negociar eficazmente e de igual para igual com as muitas empresas globais onde trabalham muitos de nossos filiados”, disse Derek Simpson, secretário-geral-adjunto da Unite, entrevistado por emissora de rádio dos Estados Unidos.

Paul Howes, secretário nacional do Sindicato de Trabalhadores Australianos (AWU), o mais antigo de seu país, participou das conversações pela fusão, cujo processo formal pode demorar uma década, segundo disse o dirigente ao jornal The Sydney Morning Herald.
Enquanto isso, a AWU buscará alianças estratégicas, acrescentou.
Sindicatos da África, Ásia, Europa e América se uniram para pressionar governos e instituições internacionais desde a década de 90, para impedir a perda de empregos, minimizar o efeito da crise financeira no mercado mundial de trabalho e opor-se à privatização de empresas.

Parte desta tarefa esteve a cargo da Confederação Internacional de Organizações Sindicais Livres (Ciosl), que em 2006 se fundiu com sua antiga rival, a Confederação Mundial do Trabalho (CMT), para formar a Confederação Sindical Internacional (CSI). O Sindicato Internacional de Empregados de Serviço, com sede nos Estados Unidos e 1,9 milhão de filiados, também propõe a união internacional de trabalhadores da saúde, segurança e do setor público.
Como em outros casos, seu principal objetivo é desbaratar tentativas empresariais de trasladar operações para países com menor custo trabalhista.

Por outro lado, AWU, USW, a brasileira Confederação Nacional de Trabalhadores do Metal, a sul-africana Mineiros Unidos, sindicatos russos e a britânica Amicus (integrante da Unite) somaram esforços para negociar internacionalmente com a Alcoa, terceira produtora mundial de alumínio, com sede nos Estados Unidos.
Cada vez mais sindicatos acreditam que somente organizações internacionais que esgrimem ameaças concretas de greve mundial poderão ficar ombro a ombro com as empresas que pretendem mudar seu capital e seus empregos.
“As companhias multinacionais pressionam os salários e as condições de trabalho para baixo, ao enfrentar os trabalhadores de um país com os do outro”, disse no ano passado Simpson, então secretário-geral da Amicus antes da criação da Unite.
“Os únicos beneficiários da globalização são os exploradores dos trabalhadores. A única maneira de resistirmos a isso é a união”, acrescentou.
“Uma das principais razoes da fusão é nosso desejo de criar um sindicato internacional capaz de tratar com as multinacionais em pé de igualdade e de organizar cada vez mais os trabalhadores”, explicou.

Enquanto se processam as fusões, a quantidade de filiados aos sindicatos dos Estados Unidos caiu de 20,1% dos assalariados em 1983 para 21,1%, segundo o Departamento de Trabalho norte-americano.
Na Grã-Bretanha, a filiação caiu de 13 milhões de trabalhadores em 1979 para menos de 7,5 milhões, segundo dados oficiais.
Anúncio formal sobre a fusão USW-Unite é esperado para julho, quando o sindicato norte-americano realizar sua convenção nacional em Las Vegas.

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