Contratos com multinacionais desmascaram de novo Bush, a mídia corporativa e os países arrastados para a guerra

Sob auspícios da Casa Branca, Exxon Mobil, Shell, Total, BP, Chevron voltam aos campos de petróleo dos quais foram expulsas há 36 anos, por Sadam Hussein
Prof. Boaventura de Souza Santos, da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal) denuncia táticas de comunicação do Departamento de Estado dos EUA

À medida em que se aproxima o fim do governo Bush, crescem as denúncias contra o atual governo norte-americano em relação às causas reais da invasão do Iraque e do assassinato de centenas de milhares de inocentes civis e crianças naquele país, em ação na qual os EUA arrastaram juntos a Inglaterra, Espanha, Portugal, Itália, Japão, Coréia do Sul e mais de duas dezenas de outros países – todos direta ou indiretamente dependentes da Casa Branca, além da mídia impressa e radiotelevisa corporativa mundial.
Entre as últimas acusações está a do porta-voz do establishment ocidental e líder no apoio ao discurso mentiroso de Bush para invadir o Iraque, o secular jornal The New York Times, que agora tenta posicionar-se à distância do conflito, já é considerado por muitos estudiosos de guerra crime contra a humanidade.

O vetusto jornal acaba de publicar que petrolíferas ocidentais, sob auspícios da Casa Branca, fecharam sem licitação contratos, que as colocam de volta ao Iraque, 36 anos após perderem suas concessões de petróleo para a nacionalização, incrementada por Saddam Hussein.

Exxon Mobil, Shell, Total, BP, Chevron e várias outras empresas menores acertaram contratos, sem concorrência, com o Ministério do Petróleo do Iraque, órgão governamental operado com "consultoria" de equipe norte-americana.
As multinacionais, que vão atuar nas maiores reservas do país, estabeleceram

a base para o primeiro trabalho comercial de grandes empresas no Iraque, desde a invasão americana; ou seja as reservas do país estão aberta às operações escandalosamente lucrativas das petrolíferas, sobretudo agora, quando a cotação do barril tem variado em torno do patamar dos US$ 150.

Os contratos sem licitação revoltaram o mundo árabe porque são incomuns para o setor petrolífero naquela região e as ofertas dos grupos de multinacionais, prevaleceram sobre outras propostas, apresentadas por mais de 40 empresas, entre elas grupos russos, chineses e indianos.

E mais: os contratos darão às empresas aprovadas vantagens em eventual licitação futura no país, que tem, provavelmente, a segunda maior reserva petrolífera do mundo e é considerado a melhor esperança para aumento em grande escala na produção de petróleo.
O Iraque conta com a particularidade extra de ter petróleo de fácil extração e, além disto, está exatamente no centro geográfico mundial dos maiores recursos energéticos mundiais, facilmente exploráveis.

As denúncias do jornal dão razão, mais uma vez, à liderança mundial, árabe norte-americana, que insistentemente denunciou terem os EUA criado a guerra no Iraque precisamente para assegurar o seu controle sobre o petróleo, o que, neste momento, está sendo viabilizado por estes contratos.
A grita geral no mundo e da Organização das Nações Unidas (ONU) contra a invasão ao Iraque, foram insuficientes para deter a direita belicista norte-americana, cujo discurso foi reforçado pela mídia impressa e por cadeias de rádio e TV, que hoje, gradativamente, deixam de apoiar a Casa Branca, à medida em que emerge o fracasso da política belicista de Bush.

Entre os que levantaram-se, nos EUA, contra guerra de Bush, estava, desde o primeiro momento, Noam Chomsky (foto), 79 anos, escritor, lingüista, acadêmico e ativista e, provavelmente, o mais influente e controverso intelectual vivo, segundo Global Intellectuals Poll.
Embora os meios de comunicação corporativistas dominantes neguem-lhe espaço, Chomski continue sendo um dos conferencistas e autores mais solicitados por estudantes, universidades, simpósios acadêmicos e, inclusive, por autoridades públicas mundiais, na Europa, Ásia e Américas.

Segundo Chomski, para a direita norte-americana, é fundamental que o Iraque permaneça sob o controle dos EUA, na medida do possível, em forma de Estado satélite obediente, que abrigue importantes bases militares norte-americanas.
"Sempre foi evidente que este era o objetivo primordial da invasão, mas agora isso não precisa sequer ser discutido. Estes planos foram explicitados pelo governo Bush com sua declaração de novembro de 2007 e por afirmações posteriores, acompanhadas da descarada exigência de que as grandes corporações norte-americanas do petróleo tenham acesso privilegiado às enormes reservas de cru do Iraque", afirma Chomski.

Recentemente, o ex-secretário de imprensa do presidente Bush, Scott McClellan (foto), publicou livro com 341 páginas de explosivas revelações, sob o título “What Happened: Inside the Bush White House and Washington’s Culture of Deception” (Public Affairs, $27.95) McClellan culpa Bush pela propaganda para vender a guerra e diz que foi demasiadamente fácil administrar os meios de comunicação, a partir da Casa Branca, durante os preparativos para a guerra e depois, enquanto o conflito acontecia; isto não só dentro dos EUA, mas no mundo.
O furor político e na mídia que o livro ainda causa decorre de duas revelações: quando ordenou a invasão do Iraque, a administração Bush sabia que o Iraque não tinha armas de destruição maciça e montou poderosa campanha de propaganda para levar a opinião pública norte-americana e mundial a aceitar a guerra desnecessária; os grandes meios de comunicação foram cúmplices ativos dessa campanha, não só porque não questionaram as fontes governamentais como porque incendiaram o fervor patriótico e censuraram as posições céticas contrárias à guerra.
As revelações em si não são novidade, porque as lideranças independentes contra a direita militarista norte-americana já vinham denunciando este fato, desde o primeiro momento; o grande impacto foi o fato de terem sido feitas pelo porta-voz da Casa Branca e certamente têm impacto que as transcendem, sobretudo se os democratas conseguirem apear os republicanos da presidência, nos EUA.
Uma dessas implicações diz respeito à mídia impressa e televisiva, já debilitada, em termos de credibilidade, pela força da internet.
Quem chama atenção para este aspecto é o sociólogo e professor Boaventura de Souza Santos, catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal).

Segundo ele, a máquina de propaganda do Departamento de Defesa assentou em três táticas: impor a presença de generais na reserva em todos os noticiários televisivos com o objetivo de demonstrar a existência das armas de destruição maciça; ter todos os media sob observação e telefonar aos seus diretores ou proprietários ao mínimo sinal de ceticismo ou oposição à guerra; convidar jornalistas de confiança de todo o mundo para serem convencidos da existência das armas de destruição maciça e regressarem aos seus países possuídos da mesma convicção belicista.
"Vimos isso trágica e grotescamente em muitos países da Europa e da América Latina, ou seja, enquanto lá mesmo, nos EUA, e no mundo circulavam, nos meios de comunicação independentes e na internet, informações contra a guerra, o brainwashing da Casa Branca era divulgado intensamente pelo jornalismo corporativo mundial – impresso e televisivo –, que, desta forma, colaborou na matança de um milhão de iraquianos e no êxodo de outros quatro milhões de cidadãos, além da destruição total do país. Tudo isto terá sido preço, não da democracia ou de luta contra terrorismo, mas sim do controle das reservas do petróleo do Golfo e da promoção dos interesses do petróleo e da indústria militar", afirmou o
professor Boaventura de Souza Santos.

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