Mudanças no clima e fome são desculpas para omissões diante das metas do milênio da ONU

Instabilidade de governos, corrupção, exclusão social e caos do comércio global são obstáculos a desenvolvimento de países mais carentes

Rahul Kumar
Da agência IPS

Primeiro, governos e entidades civis usaram problemas decorrentes de alterações no clima da terra para justificar omissões em relação ao programa da Organização das Nações Unidas (ONU) Objetivos de Desenvolvimento do Milênio; agora, é a vez da falta de alimento em diversas partes do mundo ser usada como desculpa.

A opinião é do diretor desta Campanha do Milênio da ONU, Salil Shetty (foto): “em 2007, as pessoas diziam que a mudança climática era o obstáculo ao progresso rumo aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Hoje, dizem o mesmo sobre a crise alimentar. Se os governos tivessem investido na proposta das Nações Unidas para os objetivos, não estaríamos discutindo este assunto, neste momento, pois estariam em grande parte solucionados”, afirmou ele entrevista à IPS, durante a oitava assembléia mundial da Aliança Mundial para a Participação Cidadã (Civicus), realizada em meados de junho último, na cidade escocesa de Glasgow.

A instabilidade de governos, a corrupção, a exclusão social e o caos do comércio global são obstáculos ao desenvolvimento e ao crescimento dos países mais carentes.
Entre os objetivos, figuram propostas como reduzir pela metade a proporção da população mundial que sofre pobreza e fome; conseguir educação primária universal; promover a igualdade de gênero; reduzir a mortalidade infantil em dois terços e a materna em três quartos, tudo isso até 2015, em relação aos níveis de 1990.

O compromisso completa-se com o combate à expansão do HIV/Aids, malária e outras doenças; a garantia da sustentabilidade ambiental e geração de sociedade global para o desenvolvimento entre o Norte e o Sul.

Este ano, a ONU avaliará o cumprimento dessas metas em reunião convocada para 25 de setembro, em paralelo à Assembléia Geral, que definirá o curso da segunda metade da campanha.
Além dos chefes de Estado e de Governo e de representantes da sociedade civil, participarão grandes empresários.


IPS - Qual a solução para a crise alimentar?
Salil Shetty - O mundo está concentrando-se em encontrar soluções de alta tecnologia para problemas de baixa tecnologia, e essa é a razão pela qual a crise alimentar mundial constitui interpelação aos governos. Os especialistas haviam previsto a crise, embora tenha surgido mais cedo do que o esperado.

IPS - Surgiu mais cedo por que?
Salil Shetty - Porque os governos estavam ocupados desenvolvendo infra-estrutura e setores de moda, como a indústria e os serviços, e deixaram de lado os problemas de produção para abastecimento alimentar.


IPS - Quais avanços foram feitos rumo aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e quais se perderam?

Salil Shetty - Fazer qualquer comentário a respeito é generalizar. Se disser que a África tem resultados contraditórios não significaria muito. Países mais pobres como Tanzânia, Zâmbia, Malawi, Burkina Faso e Malí estão a caminho de conseguir pelo menos seis dos oito Objetivos. Para compreender o avanço a essas metas temos que nos limitar realmente a um ou outro país; temos que focar os avanços localmente. Em cinco anos, a Tanzânia reduziu em 30% a mortalidade infantil, o que é muito elogiável.

IPS- Os objetivos podem ser efetivamente atingidos na sua totalidade ou as limitações econômicas e sociais dos países prejudicam o programa?
Salil Shetty - Uma das lições importantes da avaliação de 2007 foi que os objetivos podem ser atingidos. Os países onde os governos levaram os assuntos a sério, isto é, buscaram desenvolvimento e destinação de recursos – como o Vietnã – têm mais probabilidades de cumpri-los. Os objetivos estão em marcha onde os fundos do governo chegam às pessoas. O Vietnã é sucesso espetacular e o crédito vai para o compromisso de seu povo.

IPS - Qual é a sua prioridade, como diretor da Campanha do Milênio?

Salil Shetty -
Aumentar a mobilização e o ativismo. Programamos audiências nacionais sobre os objetivos em 20 países para fazer ouvir a voz das pessoas, além de debates nos meios de comunicação. Tentamos envolver os parlamentares nestes debates e pressionamos para que haja controle e observação independentes por parte das organizações não-governamentais.
Por fim, detectamos os problemas na implementação.
A instabilidade de governos e a corrupção realmente são obstáculo ao desenvolvimento e ao crescimento. Outro problema importante é a exclusão de pessoas e comunidades.
Dos oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, sete estão relacionados, em sua maior parte, com os países do Sul, enquanto o oitavo fala de associação mundial para o desenvolvimento.

A comunidade internacional precisa esforçar-se; o volume de ajuda cresceu, mas a qualidade desta ajuda é errática.
Por outro lado, o comércio atravessa grande caos. Mas, o cancelamento de dívidas de países pobres ajudou muito.

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