CIA, Fundação Ford e Fernando Henrique Cardoso


Ex-presidente deve explicações à sociedade brasileira sobre denúncia de que teria trabalhado para os EUA, durante a ditadura militar

A denúncia é grave e se espalha pela internet, queimando-se como rastro de pólvora: cerca de 25 anos antes de tornar-se presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso teria recebido dólares trabalhando para a Fundação Ford, que então seria financiada pelo serviço de informação e espionagem do governo norte-americano, a CIA (Central Intelligence Agency).
Pior: a atuação de Fernando Henrique Cardoso para a Fundação Ford teria ocorrido na ditadura militar, durante a vigência do malfadado AI-5, a partir de final de 1969, quando centenas de cassações e suspensões de direitos políticos estavam sendo assinadas e as prisões encontravam-se superlotadas de líderes trabalhadores, estudantes, religiosos e políticos, centenas deles sob torturas e desaparecidos.

A informação sobre o financiamento da CIA à fundação americana está no livro "Quem pagou a conta? A CIA na guerra fria da cultura", da pesquisadora inglesa Frances Stonor Saunders (editado no Brasil pela Record, tradução de Vera Ribeiro). O jornalista Sebastião Nery, em artigo no jornal Tribuna da Imprensa, foi o primeiro a levantar o assunto.
Ele definiu esse livro como terremoto: são 550 páginas, muito documentadas e minuciosas, já com enorme repercussão nos EUA e que certamente causa outro tipo de dano à biografia do ex-presidente brasileiro, que, desde a primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tem sido mentor da oposição, no país.
Fernando Henrique Cardoso deve explicações ao povo brasileiro; não só pelas informações de
Frances Stonor Saunders, mas porque há outro livro, também resenhado por Nery, na mesma linha: trata-se "Fernando Henrique Cardoso, o Brasil do possível", da jornalista francesa Brigitte Hersant Leoni (Editora Nova Fronteira, Rio, 1997, tradução de Dora Rocha).
Para Nery, o livro desvenda a atuação do ex-presidente brasileiro para a fundação que era agente da CIA.
O jornalista disse que
a fundação teria pago a Fernando Henrique Cardoso US$ 145 mil para fundar o Cebrap (Centro Brasileira de Análise e Pesquisa).
Segundo Nery, "o total do financiamento nunca foi revelado, mas, na Universidade de São Paulo (USP), sabia-se e dizia-se que o compromisso final dos norte-americanos era de US$ 800 mil a US$ 1 milhão".
"Os americanos", acrescentou Nery, "não estavam jogando dinheiro pela janela. Fernando Henrique já tinha serviços prestados. Eles sabiam em quem estavam aplicando a grana. Com o economista chileno Enzo Faletto, Fernando Henrique havia acabado de lançar o livro Dependência e desenvolvimento na América Latina, em que os dois defendem a tese de que países em desenvolvimento ou mais atrasados podem desenvolver-se mantendo-se dependentes de outros países mais ricos, como os Estados Unidos".
Nery acrescentou que
Fernando Henrique Cardoso, com cobertura da mídia e dinheiro da fundação, logo tornou-se personalidade internacional e passou a dar aulas e fazer conferências em universidades norte-americanas e européias.
"Era o homem da Fundação Ford. E o que era a Fundação Ford? Uma agente da CIA, um dos braços da CIA, o serviço secreto dos EUA", disse Nery.
A redação do MercadoGlobal fez contato com a assessoria do ex-presidente que se negou a pronunciar-se sobre o assunto.
As denúncias em ambos os livros são estarrecedoras, mas quem conviveu com o ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, Leonel Brizola, não se surpreende com essa acusação a Fernando Henrique Cardoso.

Brizola, que considerava Fernando Henrique Cardoso entreguista e militante em prol dos EUA na América do Sul, tinha na memória fatos, sobre os quais comentava com pessoas mais próximas, a respeito
dos anos do AI-5, alguns coincidentes com denúncias das historiadoras nos dois livros.
Brizola, em mais de 15 anos no exílio, sempre monitorado pela CIA, que repassava as informações aos militares brasileiros, conhecia bastante bem os meandros da atuação do serviço secreto norte-americano na América do Sul.
O jornalista Altamiro Borges, ao comentar as denúncias de Nery lembrou, em artigo para o Correio do Brasil, que Fernando Henrique Cardoso, nos 8 anos na presidência da República, foi subserviente e regrediu a política externa brasileira para a vexatória posição de alinhamento automático aos EUA.
"Com sua ação servil, avançaram as negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), que é projeto dos EUA de anexação colonial da região, e o Mercosul foi congelado", afirmou o jornalista.
Segundo Altamiro, o ex-presidente ratificou o acordo para implantação da base militar ianque em Alcântara (MA) e ressuscitou tratado do período da guerra fria, o "draconiano TIAR, que poderia levar o Brasil a participar da invasão imperialista do Iraque".
"Após os atentados de 11 de setembro, Fernando Henrique Cardoso autorizou a instalação de um escritório da CIA no Brasil", afirmou Altamiro.

O jornalista acrescentou que o ex-presidente, após deixar o Palácio do Planalto, passou a prestar consultoria aos governos dos EUA.
"Junto com Carla Hill, ex-representante comercial dos EUA, Fernando Henrique Cardoso coordenou grupo, sediado em Washington, que alertou o presidente-terrorista George Bush para os riscos da esquerdização da América Latina, segundo artigo do Financial Times de fevereiro de 2005. Fernando Henrique Cardoso presta hoje muitos serviços aos EUA, não há dúvidas. Mesmo suas ações conspirativas e golpistas contra o governo Lula lembram as velhas práticas do serviço de inteligência do imperialismo estadunidense", concluiu Altamiro Borges.

Clique AQUI para ler o artigo de Sebastião Nery, na Tribuna da Imprensa
Clique aqui
AQUI para ler o artigo de Altamiro Borges, no Correio do Brasil

2 comentários:

  1. Com 4 anos de atraso, finalmente vou poder ler esse livro que eu comprei hoje. Tenho certeza que vai ser bastante revelador...

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  2. Anônimo10:44 PM

    Porque sera que nada disso me supreende ? Grande cinismo o de Fernando Henrique Cardoso.

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