Chávez, Morales e Correa são fator de estabilidade na América do Sul

Eventos na Bolívia, assim como turbulências políticas na Venezuela e no Equador decorrem da emergência das camadas populares na política, afirma o assessor internacional da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia (foto)

Os presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, da Bolívia, Evo Morales, e do Equador, Rafael Correa, governantes em meio a sérias crises políticas em seus países, são os responsáveis pela "construção de novo equilíbrio político", e podem ser os responsáveis por "nova estabilidade" na região andina, afirma o principal articulador de política externa no Palácio do Planalto, o assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, em artigo sobre a situação econômica e política da América do Sul na próxima edição da revista Teoria&Debate, da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT.
"O entendimento dos processos em curso na América do Sul permitirá entender não só as formulações mais gerais da atual política externa brasileira, como suas manifestações práticas", escreve Garcia, em menção às ações do presidente Lula em apoio aos governos da região.
A análise de Garcia não se detém no conflito político boliviano, que levou governadores de oposição a rejeitar a Constituição votada pelo partido do governo e a decretar autonomia em suas províncias – ação criticada duramente por Morales.
Os eventos na Bolívia, assim como as turbulências políticas na Venezuela e no Equador e os projetos reformistas que disputaram o poder no Peru, pertencem todos ao mesmo fenômeno, "a emergência das camadas populares na política", resume o assessor de Lula.
"Essa irrupção ocorre em ambiente institucionalmente frágil, quando não em desagregação. Não é ocasional – menos ainda resultado de um suposto radicalismo – que, em três desses quatro países, tenha-se colocado a necessidade de Assembléia Nacional Constituinte, para reorganizar as instituições", afirma Garcia.
Segundo Garcia, chamar a linha política dos governos andinos de nacionalismo populista é "visão simplista, teoricamente, e conservadora, politicamente".
A emergência dos novos e belicosos governos na região foi resultado, na avaliação de Garcia, do fracasso de "classe dominante fundamentalmente rentista e parasitária" que não aproveitou as abundantes fontes minerais e de combustíveis desses países para industrializar o país, agregar valor aos recursos naturais ou fortalecer a agricultura voltada ao mercado interno.
Ao lado da instabilidade provocada pela fragilidade das economias, a discriminação contra a população de origem indígena potencializou os conflitos sociais.
Para Garcia, sistemas políticos perversos, com a exclusão dos grupos populares, especialmente indígenas, levaram os países andinos ao colapso que os marcou no passado recente.

Na opinião do assessor de Lula, governos como o de Chávez, Evo Morales e Rafael Correia são resultado do frágil equilíbrio de forças possível, nas condições de conflito social existentes nesses países.

"Os sintomas de instabilidade que alguns detectam nesses ricos processos são fundamentalmente sinais recorrentes em todas as mudanças de época na história", argumenta Garcia ao defender que a situação desses países é "mais que época de mudanças".

Chávez, Morales e Correa, para Garcia, "longe de serem fatores de instabilidade, são, antes, a possibilidade real de nova estabilidade fundada não na desigualdade e iniqüidade sociais ou na submissão externa, mas na soberania nacional e popular", afirma Garcia.
O assessor compara Argentina, Brasil, Chile e Uruguai para afirmar que a vitória dos partidos de esquerda nesses países se deveu ao fracasso das políticas de ajuste macroeconômico em garantir aumento do bem estar e a melhoria na distribuição de renda.
Incluindo o Chile no quadro dos países onde a democratização deu-se após profunda crise econômica, Garcia afirma que a Argentina está entre os países que "entraram em ciclo virtuoso de desenvolvimento, que associa crescimento, distribuição de renda e fortalecimento democrático".

Lembrando que os analistas internacionais prevêem, para os países do Cone Sul, impacto da atual crise econômica internacional muito inferior ao verificado durante as crises dos anos 90, Garcia comenta que a América do Sul tem grandes perspectivas, com o declínio da influência absoluta dos Estados Unidos no cenário político, desde que consiga criar infra-estrutura física e energética capaz de integrar os diversos países da região.

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