Mais um crime sionista que permanece impune: Israel transforma Cisjordânia em lixeira tóxica

Estado judeu contamina com dejetos perigosos o território palestino, cuja população está sem condições sequer de protestar

Mel Frykberg
Este artigo é parte de série produzida pela IPS (Inter Press Service) e pela IFEJ (Federação Internacional de Jornalistas Ambientais) para a Aliança de Comunicadores para o Desenvolvimento Sustentável (www.complusalliance.org).


Outro ato criminoso do Estado judeu contra os palestinos: “há anos, Israel transformou a Cisjordânia em lixeira, como alternativa mais barata e fácil do que processar os dejetos perigosos em seu território, em locais adequados ao seu manejo”, disse à IPS o subdiretor da Autoridade Ambiental Palestina, Jamil Mtoor.
Shuqbah, aldeia de cinco mil habitantes, encontra-se perto da linha verde que separa Palestina de Israel, e não está longe de Ramala, onde fica a Autoridade Nacional Palestina (ANP), que controla a Cisjordânia.

“Firmas de Israel jogam resíduos sólidos e perigosos ali há anos. A posterior queima de lixo tóxico inclui elementos como as emissões cancerígenas dos filmes de raio X. Isto afeta a população. Muitos sofrem de asma e doenças relacionadas”, disse Mtoor à IPS.
Antes, os israelenses enterravam os esqueletos de frangos que haviam sofrido gripe aviaria perto de Naplusa, no norte da Cisjordânia, disse Mtoor.

No sul desse território, em Hebron, a Autoridade Ambiental Palestina descobriu 500 barris de inseticida.
Israel exerce controle total sobre mais de 40% da Cisjordânia.
O território é dividido em áreas A, B e C. somente a A está sob controle absoluto da ANP; a B fica sob jurisdição israelense e, embora muito limitada, também palestina; a C está totalmente controlada por Israel.
“É difícil controlar os numerosos lixões que Israel usa, porque o lixo é jogado tanto abertamente quando de maneira encoberta, às vezes de noite. Os locais variam, e depois os israelenses os escondem”, acrescentou.

Os moradores dos assentamentos judeus ilegais na Cisjordânia costumam jogar seu lixo e esgoto em rios e outras fontes de água.
O Instituto de Pesquisa Aplicada de Jerusalém alertou que “o esgoto dos assentamentos não se restringe aos afluentes domestico, mas incluem pesticidas, asbesto, baterias, cimento e alumínio, que contêm compostos cancerígenos e perigosos”. Israel explora aproximadamente 87% do aquífero da Cisjordânia.
Cerca de 2,5 milhões de palestinos sobrevivem com o restante, o que representa ameaça para a saúde das duas nações.
“Os colonos judeus consomem até 200 litros diários por pessoa, enquanto os palestinos da Cisjordânia sobrevivem com 30 a 60 litros”, disse Mtoor.

A organização ambientalista israelense, palestina e jordaniana Amigos da Terra-Oriente Médio publicou há vários anos pesquisa intitulada “Uma bomba de tempo que vaza: a contaminação do aquífero da montanha com lixo sólido”.
Segundo o estudo, a eliminação não sustentável de resíduos sólidos teve com consequência o vazamento na água subterrânea de substancias tóxicas como arsênico e metais pesados (cádmio, mercúrio e chumbo).
“A ameaça para a água potável continua”, disse à IPS a porta-voz da Amigos da Terra. Miri Epstein.

As empresas israelenses que fabricam produtos potencialmente perigosos instalam-se em territórios palestinos para evitar as rígidas leis que controlam as operações em território do Estádio Judeu.
A justiça israelense fechou em 1985 as operações da companhia de pesticidas Geshuri, na cidade de Kfar Sava, por pressão dos moradores que a acusaram de prejudicar sua saúde.
Mas a firma mudou para Tulkarem, nordeste da Cisjordânia.
Para minimizar a situação, o governo alemão construiu unidade de eliminação de lixo sólido perto de Ramala, e o Banco Mundial e a Comissão Européia (braço executivo da um) construiu lixão perto de Jenin, norte da Cisjordânia.

“Contamos com a compreensão da comunidade internacional, mas a situação não se resolverá até haver solução política no prolongado conflito palestino-israelense”, disse Mtoor.
O Comitê Israelense-Palestino de Especialistas Ambientais, criado pelos Acordos de Oslo (1993), não se reúne desde 1999.
Qualquer coordenação em matéria de deposição de lixo sólido é especifica e isolada. Agora, Gaza enfrenta desastre ambiental após a devastadora ofensiva militar de Israel que causou 1.400 mortes e feriu mais de cinco mil pessoas entre 27 de dezembro e 17 de janeiro.

“A situação ambiental na faixa de Gaza é extremamente séria. Nossa prioridade é investigar os desafios na matéria e estabelecer as prioridades de reabilitação”, disse à IPS Achim Steiner, subsecretário-geral da Organização das Nações Unidas e diretor-executivo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Steiner visitou recentemente Gaza e Cisjordânia, quando avaliou junto com funcionários e pessoal da ONU a situação nos dois territórios palestinos.
Este mês, o Pnud enviará equipe de oitos especialistas para Gaza a fim de examinar, entre outras coisas, as sequelas ambientais do uso por parte de Israel de armas ilegais como fósforo branco.
A equipe é integrada por especialistas em manejo hídrico e esgoto, controle de asbesto e resíduos perigosos, elevação ambiental costeira marinha e avaliação institucional e econômica.
“A situação já era séria antes da guerra, devido à inadequada infra-estrutura de Gaza e à falta de reparos nas unidades de tratamento de esgoto e água”, disse Steiner. E agora é muito pior.

O embargo de Israel bloqueou o fornecimento de material de construção necessário para reparar a devastada infra-estrutura de Gaza e de combustível suficiente para fazer funcionar as unidades de tratamento de água e resíduos.
“Os dejetos perigosos e hospitalares não recebem tratamento. Esgoto, também sem tratar, foi bombeado ao mar e atingiram as camadas subterrâneas e o fornecimento de água potável, criando uma ameaça sanitária”, disse Steiner.
O exército israelense tem mais de 600 postos de controle e barreiras rodoviárias em toda a Cisjordânia, o que prejudica o tráfego de caminhões-tanque que transportam esgoto das aldeias e dos povoados.
Por isso, “os palestinos não têm acesso suficiente aos lixões ou capacidade para tratar o lixo adequadamente”, acrescentou.

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