Brasil não pode mais desvencilhar-se da politização da energia

Economia capitalista, baseada na produção em massa e no consumo rápido, é desdobramento da industrialização do petróleo, que se tornou responsável pelo barateamento dos transportes de todos os tipos e pela criação de numerosos bens que facilitam a vida das pessoas

José Alexandre Altahyde Hage
Consultor de Negócios Internacionais da Trevisan Consultoria

Professor da Trevisan Escola de Negócios

Organizador do livro “A Energia, a Política Internacional e o Brasil – Conflitos e Propostas no Século XXI”, que será lançado em dezembro


Desde a Primeira Guerra Mundial, o petróleo é matéria-prima que desperta o interesse de todos os países, ricos ou pobres, grandes potências ou não.
A economia internacional tem dependência do petróleo e seus derivados.
A própria economia capitalista, baseada na produção em massa e no consumo rápido, é desdobramento da industrialização do petróleo.
Esse carburante se tornou responsável pelo barateamento dos transportes de todos os tipos e na criação de numerosos bens que facilitam a vida das pessoas.

Por ser um produto tão importante no cotidiano global, o petróleo provoca conflitos e gera disputa entre vários países por causa de sua abundância e preço relativamente baixo.
A politização do petróleo faz com que os países consumidores procurem manter os estoques sob seu controle.
Já os países produtores atuam visando conservar sua preeminência sobre as jazidas.

O resultado disso pode ser um simples embate diplomático para administrar preços, que sejam mais convenientes para os dois lados.
Ou a guerra.
Os dois estilos de conflito são muito presentes na história do século XX e no início deste. É fato que não se pode haver reducionismo nesse ponto.
Nem todo conflito nas áreas de grande produção petrolífera é resultado de disputas. Mas uma vez instalado, o conflito passa a se preocupar com a sorte do carburante e seus efeitos na economia internacional.

Embora o Brasil tenha sofrido pela crise energética causada pelo boicote da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), em 1973, sua percepção sobre a politização e os desdobramentos que ela contém, passaram quase despercebidos. Havia a impressão de que o País estava incólume das mais fortes questões internacionais que envolvessem energia.
A criação do Pró-álcool, em 1975, e o fato de que a economia brasileira praticamente não cresceu durante os anos 1980 e 1990, contribuíram para que os temas sobre energia não fossem de grande debate e reflexão.
Esse comportamento durou até 2001.
Ficou claro, a partir daquele ano, que a economia nacional se manteria em ponto morto pela falta de energia suficiente para manter o crescimento. O Brasil não havia investido o montante devido na geração de energia elétrica.
Falta de visão de longo prazo e desconhecimento do assunto foram razões suficientes para fazer com que houvesse, mais uma vez, ausência de projeto na área. Por conta disso, deu-se o famoso “apagão”.

Outra data importante que despertou o Brasil para as questões energéticas foi maio de 2006, quando o governo boliviano, de Evo Morales, de forma direta, nacionalizou as duas refinarias da Petrobrás, dando ao País o ônus da resposta, já que fora pego de surpresa.

A partir daí, o Brasil não pôde mais se desvencilhar da politização da energia.
Atualmente, Paraguai, Venezuela e Equador contribuem para que Brasília não se esqueça disso.

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