Vice-presidente da República defende submarino nuclear para desencorajar aventuras contra soberania do Brasil

Embora tenha negado que a recente reativação da 4ª Frota Naval norte-americana preocupe o governo brasileiro, José Alencar (foto) admitiu que, diante da necessidade de patrulhar área marítima de mais de 4 milhões de quilômetros quadrados, o País está atrasado

O vice-presidente da República, José Alencar, defendeu a necessidade do Brasil produzir e contar com submarinos nucleares em sua frota naval.
Para Alencar, as embarcações são necessárias para o país proteger as riquezas existentes em sua plataforma marítima e desencorajar qualquer iniciativa agressiva estrangeira em águas brasileiras.
"Precisamos de submarinos nucleares que nos dêem condições de dissuasão, de desencorajar qualquer aventura contra qualquer coisa que pertença ao nosso País", disse Alencar, após visitar as instalações do Centro Experimental de Aramar (CEA) da Marinha do Brasil, no município de Iperó, a 120 quilômetros da capital de São Paulo.

Embora tenha negado que a recente reativação da 4ª Frota Naval norte-americana preocupe ou motive o governo a apressar a construção do primeiro submarino nuclear brasileiro, Alencar admitiu que, diante da necessidade de patrulhar área de mais de 4 milhões de quilômetros quadrados, o país está atrasado.

"A verdade é que a colocação de submarinos e de outras embarcações próprias, para tomar conta desta área, é absolutamente inadiável. Não é para atirar em ninguém, é para dissuadir. Hoje sabemos que há riquezas e temos que tomar conta delas. Precisamos fazê-lo imediatamente", afirmou o vice-presidente.

Desde 1979 a Marinha vem desenvolvendo seu programa nuclear no CEA.

Um dos objetivos dos militares do Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP) era dominar a tecnologia necessária para enriquecer o urânio, primeiro passo para que o país desenvolva complexo de produção de combustível nuclear.

De posse dessa tecnologia, a Marinha planeja projetar e construir submarino com propulsão nuclear.

Embora já tenha atingido o primeiro objetivo, o Brasil ainda não consegue enriquecer o urânio em grandes quantidades, tendo que recorrer a alguns países europeus.

Ao visitar o CEA no início de julho de 2007, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou a liberação de cerca de R$ 1 bilhão, necessários para a conclusão do programa nuclear da Marinha.

O valor seria distribuído ao longo de oito parcelas anuais de R$ 130 milhões cada; este ano, já teriam sido liberados R$ 80 milhões.

"Hoje, ao garantir que a intenção de uso da energia nuclear brasileira é pacífica, o vice-presidente acenou com a possibilidade de que não só o valor, mas principalmente o número de parcelas, seja revisto. Queremos abreviar um pouco isso, e não retardar, disse Alencar, enfatizando, no entanto, que é necessário que a Marinha comprove ter condições de atingir as metas estabelecidas em seu programa.
Alencar chegou a comentar que irá conversar com o presidente Lula a fim de verificar a possibilidade de acelerar o cronograma do programa, principalmente para obter o reator nuclear de testes, necessário construção do primeiro submarino nuclear brasileiro; a previsão é que o reator esteja pronto em 2014.
"Tem que ser feito cronograma que demonstre que o gargalo não é apenas financeiro e que, do ponto de vista tecnológico, nós temos todos as condições. Agora, é preciso mais recursos, em prazo mais curto, para atender os objetivos de chegarmos lá mais rápido", disse o vice-presidente.

Escopeta não é chocalho
Está em curso nova "corrida imperialista" entre as grandes potências, que lutam por segurança alimentar e energética, exatamente como ocorreu no início do século XX.
A afirmação é do prof.
José Luís Fiori (foto), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Segundo ele, a reativação da IV Frota Naval dos Estados Unidos, na zona do Atlântico Sul, provocará mudança radical e permanente, nas relações militares dos EUA com a América Latina.
"Foi por isto que surpreenderam tanto, as primeiras explicações americanas, a respeito da reativação da sua Frota – criada em 1943, e desmantelada em 1950 – que teria sido simples decisão administrativa, tomada com objetivos pacíficos, humanitários e ecológicos”, diz o prof. Fiori.
Para ele, a mentira não é pecado grave no campo das relações internacionais; pelo contrário, mentir ou dizer meias-verdades, com competência, foi sempre arte e virtude essencial da diplomacia, entre as nações.
"Portanto, não foi isto que chamou atenção, na declaração das autoridades norte-americanas, foi o seu desrespeito pela inteligência dos interlocutores, e o seu deboche com relação à impotência dos governos afetados pela sua decisão", diz indignado o professor Fiori.


Clique aqui para continuar a ler o artigo do professor José Luís Fiori, publicado no site Carta Maior.

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