Profissionais que a globalização demanda do Brasil


Indiano Ram Charam apresenta receitas simples para líderes vitoriosos

O Brasil precisa de líderes que enxerguem além das fronteiras nacionais, além da América Latina e além dos Estados Unidos; que entendam os objetivos da nação e identifiquem as regiões do mundo nas quais o País pode concorrer e vencer, porque esta é a exigência maior da globalização.
A receita é do indiano Ram Charan (foto), professor Havard Business School e ex- consultor da DuPont, General Eletric e Ford.
Seus exemplos são os países que já ocuparam posição periférica no mercado global e hoje desempenham papel central ou se encaminham para lá. Índia, China e Leste Europeu, segundo Charan, registraram vigoroso ritmo de crescimento nos últimos dez anos e vêm se apresentando como líderes da marcha dos países emergentes. Segundo Charan, é preciso ver as coisas com simplicidade, como fazem os vendedores ambulantes, que com pouca informação conseguem manter seus negócios e sustentar suas famílias: "os ambulantes administram seus negócios sozinhos, tomando dinheiro emprestado, escolhendo o que comprar e quanto comprar, como vender, por quanto vender e o que fazer se as mercadorias não têm o fluxo esperado. Eles sabem com clareza quanto precisam girar e quanto podem ter no fim do dia para sustentar suas famílias", disse ele. Charan esteve em São Paulo e proferiu palestras a empresários.
Charan concedeu diversas entrevistas, uma das quais ao site Canal RH , da qual destacamos trechos do pensamento deste guru da economia global.

Disciplina e negócios

A disciplina é necessidade para ser o melhor. A capacidade de execução é vantagem competitiva. Hoje, a melhor empresa do mundo é a Toyota, que chegou a esse patamar com o esforço coletivo e líderes eficientes. É preciso fazer as coisa com rigor, usando intensamente as ferramentas disponíveis. E repetir o trabalho com intensidade e consistência. Os melhores exemplos são as equipes esportivas. Têm disciplina, rigor e feedback. Aprendem e praticam todos os dias. As empresas são como esses times. Nenhuma funciona se as pessoas não fazem trabalho conjunto.

Brasil e globalização

Nações são construídas por líderes, assim como as empresas. O Brasil precisa concentrar-se em identificar lideranças sob a égide de instituições de gestão; precisa de líderes na iniciativa privada, no governo e na sociedade para pensar as áreas de foco de investimento, como fazê-lo e como atrair dinheiro para a região; precisam estudar para buscar novos mercados e desenvolver oportunidades para os jovens. Os líderes têm de ser capazes de enxergar mais amplamente, além do Brasil, da América Latina e dos Estados Unidos. Precisam perceber o que virá, entender os objetivos do país como um todo e identificar onde o Brasil pode concorrer e vencer. O líder não joga na defesa, mas no ataque.

Tecnologia da informação

Com as novas tecnologias, como a internet, muitas realidades mudaram. Até a internet, o poder estava nas mãos dos fornecedores. Com ela, o consumidor foi libertado. Qualquer um que queira comprar um carro, por exemplo, tem possibilidade quase infinitas de informação, que pode coletar globalmente, criando concorrência entre duas concessionárias, mesmo que uma esteja em Nova York e outra na Alemanha. Afinal, o frete custa só 300 dólares, o que não é nada no valor de um carro de 100 mil. E ainda não vimos nada, essa é só a ponta do iceberg.

Propriedade intelectual e pirataria
Toda nação deve ter anseio por respeito internacional, elaborar leis e trabalhar para que as regras sejam cumpridas. O Japão também fazia cópias nos anos 50, mas se aperfeiçoou e passou a ditar o ritmo dos negócios. A China, nos últimos 15 anos, vem encontrando o mesmo caminho. Na medida em que cresce, eles desenvolverão sua própria tecnologia e não vão querer que seja indevidamente apropriada por outros.

Geração de empregos

Não podemos mais adotar raciocínios do século 19. É preciso vencer no mercado mundial independentemente de quantos empregos serão gerados. Se o país estiver vencendo, crescendo e ganhando dinheiro, capacitará a todos para a adesão à nova dinâmica. Ainda que empregue poucas pessoas, a empresa importante, eficiente e exitosa globalmente, como a Embraer, opera transformação psicológica na população. A questão é que o país precisa de concentrar em setores nos quais pode competir globalmente. A Índia, por exemplo, passou a se dedicar a softwares e a mentalidade do povo mudou. Os empresários brasileiros precisam ter perpectivas objetivas, trabalhar arduamente e estudar parceiros em outros países onde há mercado. A [montadora indiana] Tata desenvolveu um carro de US$ 2,5 mil dólares, de olho nas oportunidades.

Evasão de cérebros
As pessoas vão embora porque vão para onde enxergam mais possibilidades. Além disso, o país precisa selecionar suas áreas de foco. E nunca depender apenas de um indíviduo. A Índia sofreu evasão de cérebros formados no país nos últimos 40 anos. Uma pesquisa recente, contudo, indicou que há nova escala de salários no país que há muitos profissionais voltando e recém-formados permanecendo aqui, mesmo tendo oportunidade de ir para a Europa ou EUA. Jovem que acaba de sair da faculdade prefere emprego em Delhi em que ganha 15 mil dólares por ano e tem direito a carro e motorista a vaga em Nova York na qual receba algo como 50 mil mil dólares. É da natureza humana a busca pelo progresso, por locais onde pode progredir. As pessoas pensam em correr atrás das oportunidades. Temos apenas de criá-las.

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