Legado revolucionário de Caio Prado Júnior

Este ano, comemora-se o centenário de nascimento de Caio Prado Júnior (1907-1990), pensador marxista, filósofo e político brasileiro, cujas obras representam salto de qualidade na historiografia do Brasil, por isto destacam-se como fundamentais ao melhor entendimento da nossa realidade e continuam leituras obrigatórias a todos aqueles que se colocam na difícil e nobre tarefa de construir um país democrático, soberano e socialmente justo.
Caio Prado, pioneiro na utilização dos conceitos marxistas como fator explicativo para a compreensão da nossa história, abrange, em sua obra, aspectos da nossa geografia, sociologia, economia e política, a formação e o desenvolvimento de nacionalidade, a partir do ponto de vista da herança colonialista e da questão agrária.
Seus estudos procuram alcançar dinâmica dialética que dê conta das determinações de nosso passado colonial e investigue as perspectivas para um provável futuro dentro do contexto do capitalismo. Ainda que hoje seu pensamento possa parecer datado, sobretudo em virtude da queda do comunismo mundial, o alcance histórico de suas análises ultrapassa qualquer modelização típica do marxismo e apresenta grande validade contemporânea para o entendimento da sociedade brasileira.

Caio Prado tem numerosos momentos importantes na trajetória profissional e acadêmica. Um desses momentos é destacado por Florestan Fernandes, em artigo para a Folha de S. Paulo, em 1996, focou o Caio Prado durante a ditadura militar e auge da Guerra Fria, situações, que, segundo Florestan, impelem Caio Prado Júnior a retomar os temas de suas investigações, dissertando sobre os marcos coloniais da dominação econômica, cultural e política da burguesia, a debilidade dessa burguesia em termos de sua situação histórica, associada e dependente, e os parâmetros da conquista da cidadania e da democracia como requisitos da reforma agrária e de outras transformações sociais.
"Ele fica exposto a várias críticas teóricas e práticas, inclusive o da via reformista, gradualista e por etapas da implantação do socialismo. Não obstante, recupera o entendimento de Marx e Engels a respeito da revolução permanente, segundo o qual ela é produto da luta de classes, não de utopias melhoristas ou humanitárias", disse Florestan.
Caio Prado Júnior formou, ao lado de Sérgio Buarque de Hollanda e Gilberto Freyre, a corrente renovadora dos estudos sobre a sociedade brasileira a partir dos anos 30. Autor de 16 livros, fundou a editora Brasiliense em 1943, mesmo ano em que publicou sua obra capital, "Formação do Brasil Contemporâneo". Em 1945, foi eleito deputado da Assembléia Constituinte pelo PCB (Partido Comunista Brasileiro). Teve seu mandato cassado em 1948. Recebeu em 1968 o título de professor livre-docente na USP com a tese "Diretrizes Para Uma Política Econômica Brasileira". O título foi cassado no mesmo ano pelo governo militar.
Caio Prado Júnior, segundo Florestan Fernandes, atingiu então o clímax de sua grandeza como marxista, cientista social e agente histórico:"marchando contra a corrente, realizou a síntese da evolução do Brasil e revisão em profundidade de questões concretas, intrínsecas a certos dilemas políticos, como a reforma agrária. Buscou o alargamento do marxismo para adequá-lo às condições históricas variáveis de periferia, da América Latina e do Brasil. E demonstrou como o intelectual, desempenhando seus papéis e sem transcedê-los pela eficácia de partidos, pode alcançar o cume de militância exigente e criativa".
Leia AQUI textos publicados pelo Brasil de Fato sobre Caio Prado Júnior.

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