Impacto da globalização sobre o trabalhador: a redução salarial, no Ocidente

Em 1980, a soma dos investimentos diretos dos países, isto é, os recursos que um país investe fora de suas fronteiras, era de US$ 500 bilhões; o capitalismo à moda antiga tendia, portanto, a ser do tipo doméstico.
Hoje, quase 27 anos depois, o capitalismo deixou de ser doméstico e se consolidou globalmente: os investimentos diretos extraplolaram novas fronteiras, saltaram para US$ 10 trilhões – aumento de quase 2.000% – e, de forma selvagem, levaram consigo a oferta de trabalho.
Resultado: os salários estão crescendo no Leste Europeu e Sudeste Asiático e caindo no Ocidente, enquanto na China e Índia permanecem nos níveis mais baixos mundiais.
De 3 bilhões de pessoas ativas no mercado global de trabalho, cerca da metade ganha menos de US$ 3 por dia, o que significa duas coisas: primeiro, estas pessoas são pobres e, segundo, os salários de miséria estão baixando os salários de outros trabalhadores melhores remunerados.
Esses dados estão contidos no best seller alemão World war for prosperity (Guerra mundial pela prosperidade), cujos trechos o portal Spiegel Online publicou em série diária.
MercadoGlobal reproduz aqui os aspectos mais importantes do livro, voltados para a questão do trabalhador, no mundo.
Os empregos seguem o capitalismo global em suas viagens pelo mundo: partem do Ocidente e reaparecem em outros lugares; aumentam em empresa de software indiana, em fábrica de brinquedos húngara ou em fábrica de motores para automóveis chinesa.
O mercado de trabalho global desenvolve-se e migra-se, mudando a forma como bilhões de pessoas vivem e trabalham.
Os trabalhadores estão cada vez mais ligados por sistema invisível de conduítes, embora não se conheçam e, em alguns casos, não estão nem mesmo cientes da existência do país no qual seus pares vivem.
Isso é precisamente o que distingue a atual globalização do comércio entre as nações do passado, o império colonial e o capitalismo industrial de meados do século 19.
Pela primeira vez na história, sistema econômico altamente homogêneo desenvolveu-se, abrangendo todos os fatores de produção.
Capital, matéria-prima e mão-de-obra são negociados como prata e seda eram vendidos no passado.
Os recém-chegados ao mercado global de trabalho olham à frente com otimismo e grande expectativa com o futuro: para eles, o trabalho traz promessa inacreditável.
Mas a situação é bem menos promissora para milhões de trabalhadores no Ocidente: mesmo em lugares onde os trabalhadores ocidentais presumivelmente são capazes de resistir, os salários estão caindo.
O desenvolvimento do mercado global de trabalho é processo de dimensões históricas, que se torna bem mais palpável quando se considera as massas incomumente grandes de pessoas que estão engrossando este mercado.
Nos anos 70, 90 milhões de trabalhadores de Hong Kong, Malásia, Cingapura, Japão e Taiwan tornaram-se parte do mercado de empregos antes dominada quase que totalmente por europeus ocidentais, canadenses e americanos.
Os Tigres Asiáticos foram recebidos com considerável espanto e os japoneses com o profundo respeito que mereciam, mas estes recém-chegados ao mercado global de trabalho eram apenas a vanguarda da era moderna.
Os chineses ingressaram no clube pouco tempo depois, seguidos dos europeus orientais e dos indianos: 1,2 bilhão de trabalhadores adicionais ingressaram no mercado de trabalho, afluxo que mudou a balança de poder porque os 350 milhões de trabalhadores bem treinados, mas caros, do Ocidente, que até recentemente eram responsáveis por grande parcela da produção global, tornaram-se minoria.
Somam-se a esta expansão de oferta de mão-de-obra as altas taxas de natalidade da economias emergentes do mundo, responsáveis por número crescente de trabalhadores ávidos para ingressar no mercado global de trabalho; eles querem empregos e farão o que for necessário para obtê-los.
Apesar de nenhum novo Estado ter entrado no mercado global de trabalho na última década, cerca de 400 milhões de pessoas adicionais ingressaram; outros 200 milhões, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), em Genebra, também desejam trabalhar mas não encontram trabalho, independente de quão mal remunerado.
Longe de não serem empregáveis, este vasto exército de desempregados é basicamente composto de mão-de-obra de reserva do capitalismo global.
Os preços das ações do mundo piscam nas telas de computador dos bancos; os preços das ações de empresas americanas e européias são assimilados em questão de minutos, às vezes em segundos.
Se telas de computador fossem instaladas em agência de empregos mostrando salários em vários países, muitos ficariam surpresos com o que veriam: o mesmo nivelamento de preços poderia ser visto no mercado global de trabalho, apenas em câmera lenta.
A adição de bilhões de trabalhadores provocou processo que em breve mudará a estrutura fundamental das sociedades ocidentais: os salários e, ao mesmo tempo, os padrões de vida de trabalhadores comuns estão aproximando-se do mesmo nível.
Em certo desenlace irônico, o capital agora assegura que a antiga exigência do marxismo de salários iguais para trabalho igual esteja sendo posta em prática; só que, desta vez, estes salários iguais estão sendo aplicados no globo em detrimento dos trabalhadores do mundo todo, porque nivela os valores por baixo; e isto implica, particularmente, em prejuízo aos trabalhadores ocidentais, que não têm escolha a não ser permanecer onde estão, apesar de o trabalho ter ganhado fronteiras.

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