EUA planejaram bombardear Cuba após apoio de Castro à independência de colônias africanas


O então secretário de Estado norte-americano, Henry Kissinger (1968-1976), elaborou uma série de planos secretos, que incluíram ataques contra portos cubanos, após a decisão de Fidel Castro de enviar tropas para Angola no final de 1975, de acordo com documentos inéditos publicados nesta quarta-feira (01/10) pelo Arquivo de Segurança Nacional.
“Acho que nós devemos esmagar Castro. Mas provavelmente não podemos fazer isso antes das eleições presidenciais”, aconselhou Kissinger ao então presidente, Gerald Ford (1974-1977), durante uma reunião de alto nível com autoridades de segurança em 24 de março de 1976. “Eu concordo”, respondeu o presidente.
Esse plano secreto de Kissinger contra a ilha de Castro foi publicado hoje em um livro intitulado “Back Channel to Cuba: The Hidden History of Negotiations Between Washington and Havana”, escrito pelo professor da American University William M. LeoGrande e por Peter Kornbluh, diretor de um projeto sobre documentos cubanos do Arquivo de Segurança Nacional.
De acordo com o livro, as hostilidades abertas contra Cuba vieram depois de um esforço prolongado de negociações diplomáticas secretas para normalizar as relações bilaterais, que incluíram encontros entre autoridades norte-americanas e emissários cubanos no aeroporto de La Guardia e uma sessão de negociações no Hotel Pierre, em Nova York, em 1975. Contudo, os esforços de Cuba em apoio à luta anticolonial na África foram vistos como grande ameaça aos interesses dos EUA.
Castro havia decidido enviar milhares de soldados para ajudar o Movimento Popular de Libertação de Angola contra ataques de grupos insurgentes, apoiados secretamente pelos Estados Unidos e pelo governo do apartheid da África do Sul. Preocupado com a possibilidade de Cuba ampliar a incursão militar para além de Angola, Kissinger aconselhou Ford a “quebrar os cubanos”, durante uma conversa em 15 de março de 1976 no Salão Oval da Casa Branca.
Dias depois da reunião com o chefe de Estado, Kissinger expôs o cenário político na África para uma equipe de segurança nacional de elite, temendo um efeito dominó no continente. "Se os cubanos destruírem Rodésia (atual Zimbábue), Namíbia será a próxima e, em seguida, a África do Sul”, argumentou Kissinger. Para o secretário de Estado norte-americano, o movimento de Castro poderia, ainda, atravessar o oceano e afetar as minorias descontentes na América do Sul.
Além disso, Kissinger temia que a falta de uma resposta dos EUA para o exercício de poder global militar realizado por uma pequena ilha do Caribe pudesse ser visto como fraqueza norte-americana. Elaborado secretamente por Washington em abril de 1976, os planos contra Cuba incluíam sanções econômicas e políticas, além de ofensivas como bombardeio de portos cubanos e ataques aéreos e navais estratégicos.
No entanto, assessores alertaram Kissinger que um afronte a Cuba seria traduzido como uma possível briga com a União Soviética, país com o qual naquele momento a Casa Branca tentava entrar em acordo. Além disso, Ford perdera as eleições presidenciais naquele mesmo ano para Jimmy Carter, e, assim, esse plano secreto foi colocado de lado.

Por Patrícia Dichtchekenian
Fonte: Opera Mundi

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