Em decisão surpreendente, corte suprema do Reino Unido aceitou extradição para Suécia, mas oferece novo recurso ao fundador do Wikileaks.
Crescem suspeitas de que EUA agem sigilosamente para tê-lo em seu território
Por Natalia Viana, na Publica
Na quinta-feira (31/5) pela manhã, a corte suprema do Reino Unido anunciou a decisão a favor da extradição de Julian Assange para a Suécia, onde é investigado por crimes sexuais.
Mas a batalha ainda não acabou.
A advogada de Julian, Dinah Rose, tem 14 dias para pedir uma última revisão da decisão.
O caso já se arrasta na justiça britânica há um ano e meio - durante todo este período, Julia está em prisão domiciliar, podendo sair apenas durante o dia. Ele ainda é obrigado a usar uma tornozeleira eletrônica que monitora todos os seus movimentos.
Desde a prisão domiciliar ele comanda um programa de entrevistas com pensadores, políticos e ativistas para o canal estatal russo RT, The World Tomorrow.
A Pública conversou com Kristinn Hrafnsson, porta-voz do WikiLeaks, sobre a decisão:
Como foi recebida a decisão da Corte Suprema?
Há sentimentos misturados na equipe. Ficamos desapontados com a derrota, mas os advogados ficaram surpresos com os argumentos utilizados, que eram totalmente novos e não haviam sido usados durante as audiências anteriores.
Foram 5 juízes a favor (da extradição) e 2 contra.
Os favoráveis se basearam na Convenção de Viena sobre a Lei dos Tratados, mas este ponto não havia sido discutido.
É uma decisão surpreendente e interessante, porque é uma combinação da legislação europeia com a decisão do parlamento britânico.
Como assim?
O que os juízes disseram é que quando o acordo do tratado de extradição europeu (European Arrest Warrant) foi assinado, os parlamentares não entenderam a contradição entre as leis.
Pela lei britânica, um procurador não é visto como uma autoridade judicial.
É uma grande surpresa do ponto de vista legal, e muito interessante.
Quais as consequências legais para outros casos semelhantes?
Em geral, isso significa que um procurador pode pedir a extradição de alguém que está sendo investigado por um crime, mesmo que ele não esteja sendo processado formalmente – é o caso do Julian.
Mas eu acho que as implicações legais não podem ser determinadas até depois destas duas semanas, quando haverá uma decisão final.
A corte suprema pode permitir que nossos advogados contra-argumentem com base neste novo fato (o Tratado de Viena), e isso pode alterar toda a decisão.
Por que Julian está tão empenhado em não ser extraditado?
O que pode acontecer se ele for extraditado para a Suécia?
Olha, vamos ver o que acontece, passo a passo.
Mas temos fortes indícios de que os Estados Unidos podem pedir a sua extradição da Suécia.
Não há nenhum pedido formal ainda, mas sabemos, com base nos emails vazados da empresa de inteligência Stratfor – o último vazamento do WikiLeaks – que existe uma acusação secreta contra Julian.
Essa acusação teria sido expedida por um júri secreto que se reuniu durante meses em Alexandria, na Virgínia.
Nem a acusação nem a decisão do júri foram apresentados ao público.
Dizem que a possível prisão de Julian é um último golpe ao WikiLeaks, uma organização que tem sofrido problemas financeiros desde que os cartões de crédito suspenderam pagamentos.
O WikiLeaks tem futuro?
Se Julian for preso, temos um plano, é claro, mas não vamos discutir isso em público.
Estamos nesta batalha há quase dois anos e continuamos aqui, continuamos vivos.
Então vamos ver o que acontece. No caso dos cartões de crédito, entramos com uma petição na Comissão Europeia contra Visa e Mastercard, já que eles estão fazendo um bloqueio ilegal contra nós.
Nas próximas semanas a Comissão vai decidir se abre ou não uma investigação contra essas empresas.
Quais os próximos passos do WikiLeaks?
Ainda há alguns episódios da série World Tomorrow, e o vazamento dos documentos da Stratfor ainda não terminou, temos 25 veículos do mundo todo trabalhando com os documentos e estamos ampliando as parcerias.
Lançamos uma rede social, a Amigos do WikiLeaks, para articular nossos apoiadores.
E haverá mais vazamentos?
Claro! Novos vazamentos devem sempre ser esperados.
Sempre temos novos projetos de publicações na fila.
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