Cândido Portinari, Retirantes, 1944, óleo s/ tela 190 x 180 cm. 
Coleção Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, SP, Brasil. 


Má distribuição de alimentos leva
à fome 15% da população mundial

 
A fome crescente no mundo é problema de acesso à comida e não de disponibilidade de alimentos; neste ano, o número de famintos aumentou em 150 milhões, até junho.

A fome já devasta a dignidade e a saúde de quase 1,2 bilhão de seres humanos (15% da população mundial) e é realidade para 6,3% dos brasileiros (11,9 milhões). 
Na Ásia, no Pacífico e na África, quase 950 milhões de habitantes não têm o que comer.
A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) já tinha reconhecido há 20 anos que a fome decorre não de falta de alimentos, mas sim da inexistência de distribuição adequada de comida.
Há suficiente alimento no mundo para o sustento diário de todos os habitantes do planeta, afirma Benedikt Haerlin, da fundação Zukunftsstiftung Landwirtschaft, que apoia projetos agrícolas ecológicos e sociais.
“Hoje produzimos alimentos demais. Muito mais do que seria necessário para alimentar a população atual, sendo que ainda nem estamos perto de esgotar o potencial da alimentação direta. Para pequenos produtores rurais, dobrar a produção custa pouco”, argumenta Haerlin, que participou da elaboração do Relatório Internacional sobre Ciência e Tecnologia Agrícolas para o Desenvolvimento (IAASTD, na sigla em inglês) de 2008.
“Se temos mais de 1 bilhão de pessoas que passam fome por não ter dinheiro para comprar comida e outro bilhão de clinicamente obesos, alguma coisa está obviamente errada”, alerta Janice Jiggings, do Instituto Internacional para Meio Ambiente e Desenvolvimento em Londres.
“O sistema agrário saiu do controle e, no futuro, não estaremos mais em condições de nos alimentar de forma pacífica e civilizada.”
Utilizar adubo artificial em solo ressecado a fim de duplicar a produção agrária não é a solução.
A agricultura já é uma das atividades que mais prejudicam o meio ambiente, devido a desmatamentos, em favor de plantações e monoculturas, e porque a agroindústria contribui para a emissão de gases-estufa na atmosfera.

“A ideia de que somos cada vez mais numerosos e por isso precisamos produzir mais é equivocada. Precisamos é produzir melhor. Menos da metade dos grãos é destinada à alimentação, enquanto a maior parte serve para fabricar rações animais, biocombustíveis e outros produtos industriais.”, explica Haerlin. 

O diretor-executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), Achim Steiner, diz que ao mesmo tempo em que se tem crise de alimentos, joga-se fora 30% a 40% da produção.
"Temos que encontrar estímulos financeiros para evitar que se jogue comida fora”, conclui.

Economista da FAO, o norte-americano David Dawe, Ph.D. em Economia pela Universidade de Harvard e coordenador técnico do relatório A situação da insegurança alimentar no mundo, afirma que a fome aumenta em todos os continentes e expõe um problema de ordem estrutural.
A seguir a íntegra da entrevista Daw, que elogiou a atuação do Brasil no combate à desnutrição.

Quais as conclusões mais alarmantes do documento e em que regiões do mundo a fome aumentou no último ano?
Há duas conclusões alarmantes do relatório. Em primeiro lugar, o número de pessoas famintas no mundo ultrapassou o 1 bilhão, graças à crise econômica e à crise do preço dos alimentos. Esse é o maior número de famintos desde 1970, o primeiro ano para o qual a FAO tem registros históricos. Em segundo lugar, mesmo antes da crise, havia mais de 850 milhões de pessoas subnutridas, o que sugere problema mais estrutural com o sistema alimentar mundial. A fome tem aumentado em todos os locais do mundo.

Que impactos a crise financeira global teve sobre a disponibilidade de alimentos?
A crise financeira global não teve muito efeito na disponibilidade ou escassez de comida ao redor do mundo. Pelo contrário, a longo prazo existe tendência de alta da produção alimentar. No entanto, a inflação do preço da comida e a crise econômica afetaram a habilidade da população mais carente de comprar o alimento.

Como o senhor vê a relação entre a integração das nações e a fome? A globalização dificultou o acesso à comida?
O mundo é mais globalizado e integrado do que era na década de 1970. Isso tem aumentado a transmissão de choques dos países desenvolvidos. Mas, nos anos recentes, a globalização tem ajudado a diminuir a fome, ao fornecer comida mais barata e, além disso, oportunidades de renda para muitas pessoas carentes.

O Brasil tem feito progressos na luta contra a fome?
O Brasil tem caminhado a passos largos no combate a fome, incluindo seu trabalho pioneiro na operacionalização do direito à comida. 

Nesse relatório, temos duas partes especiais sobre o Brasil — uma sobre o direito ao alimento e outra sobre a resposta à crise econômica. 
O país reduziu a percentagem de desnutridos de 10% entre 1995 e 1997 para 6% entre 2004 e 2006 e tem feito progresso definido em direção à primeira Meta de Desenvolvimento do Milênio.
A taxa de 6% de subnutridos é também bem baixa — a menor da América do Sul.
O número de desnutridos caiu de 15,6 milhões para 11,9 milhões.

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