Países ricos continuam esquecendo-se dos pobres

Artigo de Sylvia Borren Presidente do Chamado Mundial à Ação Contra a Pobreza (CGAP) e da Worldconnectors

Os mais poderosos dirigentes políticos do mundo continuam desatendendo a questão dos direitos humanos, deixando de assumir responsabilidade pelos efeitos da crise econômica e financeira que eles mesmos causaram.
A crise alimentar está afetando majoritariamente as mulheres, enquanto os jovens de todo o mundo, que sofrem carências em matéria de educação e trabalho e não têm esperança, voltam-se à violência doméstica ou comunitária como maneira de desafogar problemas.

A migração forçada aumenta.

Os cidadãos do mundo viram como os líderes dos países desenvolvidos agiram, com velocidade e coragem sem precedentes, para regatar os bancos.
Cerca de US$ 20 trilhões foram usados e prometidos para aqueles que foram os maiores causadores da crise atual. Entretanto, nem mesmo um terço dos US$ 30 bilhões pedidos na reunião de Alto Nível da ONU sobre a Crise Alimentar, de um ano atrás, foi colocado à disposição até agora.
Após semanas de negociações, as conclusões da Conferência de Alto Nível das Nações Unidas sobre a Crise Financeira e Econômica foram enormemente decepcionantes.
A reunião foi oportunidade para continuar apresentando nossas demandas sobre a crise econômica depois da Conferência de Doha sobre Financiamento Internacional. O documento final da Conferência de Nova York acabou aceito unanimemente. Porém, pouco depois os delegados dos EUA indicaram que as estruturas do Fundo Monetário Internacional, do Banco Mundial e da Organização Mundial do Comércio não deveriam sofrer influências das decisões da Organização das Nações Unidas (ONU).
As boas novas desta Conferência da ONU é que existem muitas soluções transformadoras que foram colocadas na mesa e que apontam para a mesma direção: investir nas pessoas.
São elas:
- Investir nas crianças por meio de uma educação de qualidade;
- Investir em empregos com salários decentes para as mulheres no setor da atenção domiciliar;
- Investir em emprego juvenil;
- Investir em serviços públicos de qualidade na saúde, educação, água e saneamento;
- Investir em agricultura sustentável em pequena escala para resolver a crise alimentar;
- Investir em microfinanças como base das economias locais e das empresas;
- Investir em infraestrutura ecológica para adaptar-se à mudança climática e combatê-la.
As más notícias são a notável falta de urgência e de vontade política para avançar com nas muitas soluções propostas.
Foi recomendado que 1% dos pacotes de estímulo dos países desenvolvidos se destine ao mundo em desenvolvimento.
Esta recomendação (que destinaria ao mundo em desenvolvimento US$ 200 bilhões) não foi aditada pela Conferência de Nova York.
Pessoalmente, penso que a solução é gastar dólar por dólar em investimentos nas pessoas, que a sociedade civil, incluindo os sindicatos, está exigindo, ou seja, em soluções sustentáveis para o desenvolvimento.
Assim, dos US$ 20 trilhões usados para resgate de bancos e grandes corporações empresariais, pelo menos metade deveria ter sido investida nas pessoas, nos países em desenvolvimento.

Mas as vozes dos pobres e dos milhões de cidadãos organizados em sindicatos e grupos contra a pobreza aparentemente não são tão importantes como as dos bancos e das grandes corporações.

Nossos dirigentes fornecem pacote de resgate cuja maior parte foi para a elite econômica e nada destinam aos dois bilhões de mulheres, crianças, idosos e socialmente excluídos que se encontram na parte mais baixa da pirâmide econômica.
Esta é a crise moral da liderança que estamos enfrentando atualmente no mundo.

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