Assassinatos juvenis no Mercosul duplicam e suicídios de jovens são 23% maiores do que a média da população

América Latina tem 63 milhões de jovens, mais de 60% não acreditam em partidos políticos e mais de 90% mostram-se dispostosr à ação solidária nas comunidades

Por Natalia Ruiz Díaz, da IPS

A incerteza profissional centraliza a preocupação dos jovens do Mercado Comum do Sul (Mercosul), que têm papel protagonista no desenvolvimento de seus países.
Esta é a conclusão de estudo que aborda a realidade da população juvenil do bloco, apresentado pelo escritório paraguaio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) elaborado a partir de estudos específicos, entrevistas e pesquisas com jovens do Brasil, da Argentina, do Uruguai e do Paraguai.

“Qualquer problema a enfrentar e resolver em nossas sociedades tem de partir do reconhecimento do papel protagonista dos jovens no desenvolvimento”, disse à IPS Fernando Calderón, coordenador do IRDH.

Os dados que se depreende do informe indicam que no Mercosul vivem 63 milhões de jovens, 27% dos habitantes dessa sub-região.

Este setor concentra mais de um terço da população economicamente ativa e suporta desemprego urbano de 25%, quase duas vezes maior do que a media geral, de 13%. Pelo menos dois em cada cinco trabalham no setor informal da economia.

A questão trabalhista, dessa forma, coloca-se no centro das preocupações juvenis em todas as cidades examinadas (Rio de Janeiro, Assunção, Buenos Aires e Montevidéu).
Marcos Peralta, paraguaio de 22 anos, cursa o último semestre de psicologia.
Desde que começou a faculdade estabeleceu como meta encontrar trabalho relacionado com sua futura profissão, mas até agora isso foi impossível.
Hoje continua ajudando seus pais na padaria que possuem e que lhe permite pagar os estudos.

“Paralelamente às aulas, creio que não houve painel nem seminário do qual tenha deixado de participar. Mas agora me preocupa não encontrar lugar para trabalhar”, disse à IPS.

A Análise sugere a existência de tensão crescente entre a consciência do direito à educação, com acesso cada vez maior as novas tecnologias da comunicação, e a incerteza sobre um futuro de inclusão plena no mercado de trabalho.

“Ninguém tem segurança de ter emprego por mais instrução que tenha. Hoje em dia, o mercado profissional tende a ser incerto e as possibilidades de inserção são cada vez mais difíceis, segundo os níveis de educação e preparo”, disse Calderón.
Os jovens se ligam cada vez mais às transformações da sociedade, pelo conhecimento das comunicações e da informação à velocidade crescentemente acelerada com relação aos adultos e aos idosos.

Segundo Calderón, o monopólio do poder que se dava em termos de idade, como do pai e da mãe sobre os filhos, ou dos professores sobre os alunos, tende a se romper, porque os jovens aprendem cada vez mais.

A grande maioria da população juvenil da região está alfabetizada e completou o ensino primário.

Dependendo do país, entre 40% e 60% conectam-se à Internet mais de uma vez por semana.

Outro aspecto que esteve sob a lupa dos pesquisadores foi o olhar juvenil sobre a política.

Por um lado, constatou-se protagonismo crescente deste setor no plano político, e, por outro, a desconfiança em relação às instituições tradicionais.

Em média, mais de 80% do total de entrevistados desconfiam do governo, dos partidos políticos, dos sindicatos, da polícia e da justiça.
Por outro lado, a maior confiança repousa em instituições não políticas, como centros educacionais, meios de comunicação organizações não-governamental e igrejas. “Esta capacidade de ação dos jovens passa por sua capacidade de transformar necessidades em metas, e estão nessa direção. Se não se atender esse problema, o horizonte é de conflito, caos e atraso no desenvolvimento”, disse Calderón.
Uma das recomendações que o informe pode fornecer – acrescentou – seria a necessidade de fortalecer em todo sentido a ação do Estado, em função e com participação da juventude.
A vice-ministra da Juventude do Paraguai, Karina Rodríguez, destacou que neste país nunca houve investimento suficiente para o diagnóstico da situação da juventude, por isso, muitas vezes as medidas implementadas como políticas públicas estão dirigidas às urgências e necessidades imediatas.

“Este estudo nos dá parâmetro científico para transcender as urgências”, concluiu. Os trabalhos para o estudo começaram em 2008 e não há data certa para sua publicação.
No momento estão sendo feitas entrevistas com aproximadamente 600 lideres juvenis.
Calderón disse que a obtenção de novos dados consumirá mais um ano.
A evolução do Índice de Desenvolvimento Humano aumentou consideravelmente na América Latina, em geral, entre 1980 e 2006.

Do conjunto da região, o país que mais rapidamente evoluiu é o Brasil.
O IDH é indicador social obtido através da combinação de dados estatísticos nacionais referentes a expectativa de vida ao nascer, alfabetização e matrícula nos três níveis de ensino, e produto interno bruto por pessoa.
Mas, apesar dessa evolução, a região enfrenta fortes problemas estruturais de desigualdade, pobreza e crise na vida cotidiana dos jovens.

O informe preliminar diz que entre 1990 e 2002 a proporção de jovens pobres passou de 43% para 41%, enquanto na população total a pobreza caiu de 48% para 44%.

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