Usina da Itaipu primeiro gerou corrupção

Quando se anunciou o projeto da hidrelétrica de Itaipu, o custo da obra seria de US$ 2 bilhões; com as obras em andamento, subiu para US$ 7 bilhões; passou por US$ 20 bilhões, depois subiu para US$ 30 bilhões e, até 2023, poderão ter sido pagos US$ 60 bilhões

Roberto Colman (foto)
Sindicalista eletricitário paraguaio, integra a Frente Social e Popular (FSP) e a Coordenação Nacional pela Soberania e a Integração Energética (CNSIE) do Paraguai

A Usina de Itaipu esteve, desde que foi inaugurada, fora do controle dos órgãos de auditoria dos Estados brasileiro e paraguaio, amparada em seu caráter binacional.
No Paraguai, temos provas contundentes da corrupção que houve ao longo desses 35 anos.

Quando se anunciou o projeto de Itaipu, falou-se que ele custaria US$ 2 bilhões.
Com as obras em andamento, esses valores subiram rapidamente para US$ 7 bilhões.
No fim de sua construção, afirmava-se que seu custo total ficaria em US$ 20 bilhões (custos financeiros incluídos).

Mas, até o presente, já foram pagos US$ 30 bilhões e, até 2023, quando a empresa prevê quitar todas suas dívidas, poderão ter sido pagos US$ 60 bilhões .

No Paraguai, nos anos 1970 e 1980, Itaipu foi fonte de enriquecimento ilícito para o então ditador Stroessner e seu entorno.

As fortunas do ex-ditador e do general Andrés Rodríguez (seu segundo no mando, que deu o “golpe democratizador” em 1989 e foi, em seguida, presidente do país) devem-se, em boa medida, à maneira como assaltaram os cofres da binacional durante sua construção.

Os empresários aos quais Stroessner entregou os contratos ficaram multimilionários, e são conhecidos até hoje como “os barões de Itaipu”.

Em troca dessas vantagens, a ditadura de Stroessner fez todas as concessões exigidas pelos militares brasileiros para fazer do Paraguai espécie de “Porto Rico do Brasil”.

O Tratado de Itaipu e, mais ainda, a forma como posteriormente foi aplicado, consolidou essa relação “neocolonial”.

Isso foi denunciado na época não somente pela oposição democrática paraguaia, mas por intelectuais brasileiros críticos da ditadura!

Conhecemos a corrupção que houve do lado paraguaio.
Mas as empresas paraguaias tiveram apenas 15% das obras!
Será que foi muito diferente com o 85% restante que ficou com as empresas contratadas do lado brasileiro sob o controle dos militares?
Quando, no final dos anos 1970, foi denunciado pela imprensa brasileira que Itaipu tinha o metro cúbico de cimento armado mais caro do mundo, esse era o mesmo material que se usava dos dois lados da fronteira!

E a corrupção em Itaipu continuou mesmo depois do fim das ditaduras nos dois países.
Ainda no início dos anos 1990, foi denunciado por funcionários do lado brasileiro o “desaparecimento” de barilhas de aço e sacas de cimento em valor de vários milhões de dólares.
O escândalo foi abafado e seus responsáveis foram protegidos já na gestão tucana de Itaipu.

Alguns dos atuais negociadores brasileiros impuseram o objetivo de defender o “tudo o realizado nos 35 anos” e o “status quo” nas relações Brasil-Paraguai no marco de Itaipu, porque defendem que seu país continue usufruindo das vantagens conseguidas nas décadas passadas em detrimento do Paraguai.

Porém, pela primeira vez em 35 anos, um governo brasileiro encontra-se diante de negociadores paraguaios que não têm “rabo preso” com os esquemas corruptos e entreguistas gestados na ditadura militar paraguaia.

Assim, para que se avance nas relações bilaterais, será necessário que também os negociadores brasileiros parem de defender a herança neocolonialista deixada pela sua ditadura militar.

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