Alarmante mundo em transformação

Documento alerta: EUA vão perder hegemonia no mundo cujo controle será disputado por China e Índia; hostilidades internas e competição paralisrão países da UE; mais fome na África; América Latina dominada pelo narcotráfico e crime organizado; radicalização muçulmana ao interpretar que Islã e Ocidente são incompatíveis; alguns governos da Europa Central ou Oriental em mãos de organizações criminosas

Por Joaquín Roy
Diretor do Centro da União Européia da Universidade de Miami

Como se o presidente Barack Obama não tivesse suficientes dossiês que o aguardam no Salão Oval da Casa Branca, o Conselho de Inteligência Nacional (NIC) dos EUA preparou-lhe leitura adicional que certamente vai trazer-lhe preocupações.
“Pautas globais 2025: mundo transformado” é o título documento, entre alarmante e deprimente.
O documento alerta que os Estados Unidos terão perdido a hegemonia global na metade da década de 2020; outras potências (China e Índia) disputarão o controle do planeta.
A África terá piorado, presa na armadilha da fome.

A América Latina não conseguirá competir no sistema internacional, continuará vítima do narcotráfico e do crime organizado que impactam a segurança dos cidadãos, com o resultado de uma sustentada pressão para a emigração.

Embora a influência de Washington na região diminua, os EUA continuarão sendo imã.
A população hispana dos Estados Unidos, em crescimento, exigirá maior implicação na cultura, na economia e na política na América Latina, mas outras urgências mundiais poderão causar falta de atenção, repetição de ciclo recorrente.
Na Europa, em geral, alguns países em particular, e a União Européia, destacam-se pela brevidade da análise e sua contundência.

Segundo os cálculos, o processo de integração europeu terá experimentado crescimento muito lento em 2025 para poder servir de ferramenta de apoio aos interesses europeus.
Para ser mais coesa, a UE deverá resolver o “déficit democrático que divide Bruxelas e os cidadãos”.
O informe reconhece que a União Européia é capaz de contribuir para “a estabilidade e a democratização da periferia da Europa”, especialmente nos Bálcãs e na Turquia.

Mas Bruxelas pode falhar em convencer os eleitores de sues Estados-membros dos benefícios de integração mais profunda e em assumir as necessidades de população envelhecida “mediante a execução de reformas dolorosas”.
Assim, a UE pode converter-se em “gigante tolhido”, distraído por “hostilidades internas e agendas nacionais competidoras”.
O resultado será a União Européia impotente para “traduzir seu poder econômico em influência global”.
O envelhecimento da população ativa representará “severa prova para o modelo europeu de bem-estar social”, a pedra angular da coesão política da Europa desde 1945.
A liberalização econômica será mais débil até que a pressão demográfica force mudanças mais dramáticas. Entretanto, a Europa vai experimentar queda nos benefícios assistenciais, nos gastos de defesa e nos programas sociais.
O aumento da população muçulmana reclamará esforço econômico para sua integração que pode ser desafiado pelos interesses nacionalistas.

Quanto às reformas institucionais da UE, o informe se mostra especialmente cético quanto à efetividade de “presidente europeu” ou “chanceler” para manejar as crises que surgirem.

A Europa não se converterá em poder militar em 2025, afetada por competições internacionais, tornando mais complicada a política externa e a de segurança e causando erosão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Como mostra da obsessão americana pela entrada da Turquia na União Européia, se denuncia o dano que rejeição produziria.
Seria confirmado o diagnostico da radicalização da população muçulmana ao interpretar que Islã e Ocidente são incompatíveis.
Esta negativa perspectiva se uniria ao aumento do crime organizado produzido pela dependência energética.
Governos da Europa Central ou Oriental poderiam cair sob a dominação dessas organizações criminosas.

Naturalmente, a Rússia está por trás de todos esses males, já que os Estados europeus (Alemanha, Itália) se verão incapazes de se livrarem da dependência do petróleo e do gás russo.

Depois vira o descumprimento no fornecimento pela falta de modernização e a corrupção que já afeta toda a grande região euroasiática.
O vírus afetaria também as empresas européias.
Este sombrio panorama é suficiente para Obama deixar de sorrir; é má notícia, não somente para a Europa, mas para os Estados Unidos.

O que é mau para a Europa é mau para os Estados Unidos, para reescrever a frase “o que é bom para a General Motors é bom para a América”, atribuída precisamente a um ex-presidente da GM.

Os europeus são os aliados mais confiáveis para os Estados Unidos, agora e depois.
As vozes otimistas, entretanto, consideram que este vaticínio é exagerado.
No fim, o desafio (que está presente no informe) não é sinônimo de destino inexorável.

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