Mais de 200 milhões de desempregados globais


Muito antes da crise financeira, o mundo já estava marcado por crescentes pobreza, trabalho precário
e desigualdades sociais

Juan Somavia

Diretor da Organização Internacional do Trabalho (OIT)


Quais as conseqüências da atual crise financeira global para as pessoas e para a economia real? Desconhecemos a gravidade desta crise e sua duração, mas sabemos que se não agirmos de maneira decisiva as conseqüências para milhões de pessoas e suas condições de vida e de trabalho serão profundas.
Diante da urgência, as propostas destinam-se a melhor regulação financeira e a mecanismo de segurança global mais eficaz.
Mas devemos nos projetar para além dos mercados financeiros; a crise não foi sentida apenas em Wall Street, mas nas ruas do mundo inteiro.
O mundo necessita de plano de resgate econômico para todos aqueles e aquelas que trabalham, investem e asseguram o funcionamento da economia real, com regras e políticas favoráveis ao trabalho decente e às empresas produtivas.
Com o restabelecimento do liame entre produtividade e salários, entre crescimento e desenvolvimento.
As pessoas devem reencontrar confiança em economia que também funciona para elas; esta mensagem é urgente.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) fez a primeira estimativa do impacto da crise sobre a vida cotidiana das pessoas em todos os níveis da sociedade.
O número global de desempregados aumentará em 20 milhões, daqui ao fim de 2009 – ultrapassando o número de 200 milhões de desempegados no mundo pela primeira vez na História.
As pessoas que trabalham na construção, na indústria automobilística, no turismo, na finança, nos serviços e no setor imobiliário serão as primeiras atingidas.
Além disso, o número de pessoas trabalhando e vivendo com menos de um dólar por dia poderá aumentar em 40 milhões e o de pessoas vivendo com 2 dólares por dia em 100 milhões.
Por mais sombrias que sejam essas previsões, é temeroso pensar que se trata apenas de subestimação, caso os efeitos do desaquecimento econômico e da recessão que se aventam não forem rapidamente controlados.
Devemos concentrar nossa ação sobre as pessoas, as empresas, a economia real e quatro eixos devem ser observados.
O primeiro, restaurar a circulação do crédito.
Segundo, dar sustentação aos mais vulneráveis, com medidas como proteção às aposentadorias, ao seguro desemprego, passando pela ajuda às PME (Pequenas e Médias Empresas), que persevera sendo o primeiro nicho de emprego.
Terceiro, políticas públicas eficazes e regulação inteligente, que recompense o trabalho e a empresa. Estamos sofrendo os espamos de sistema financeiro que perdeu o rumo no plano ético.
Devemos retomar a função primeira e legítima da finança, que é promover a economia real, emprestar aos empreendedores que investem, inovam, criam empregos, produzem.
Retomemos o papel primeiro dos mercados financeiros: lubrificar a engrenagem da economia real.
Enfim, e isso é crucial, devemos relevar os desafios fundamentais subjacentes.
Muito antes da crise financeira atual, já estávamos em crise.
Crise marcada por pobreza maciça em escala mundial, de desigualdades sociais crescentes, de informalidade e de trabalho precário em pleno avanço.
Crise da globalização que trouxe benefícios consideráveis, mas que, para muitos, é desequilibrada, injusta e não-durável.
É urgente reencontrar o equilíbrio, o que passa pela sustentação das pessoas e da produção.
É preciso salvar a economia real.
Lembremo-nos de que as pessoas julgam sua vida e seu amanhã em função do seu percurso no trabalho. Mais do que nunca, devemos lutar para que as políticas públicas e os serviços sociais necessários estejam à altura da principal preocupação das pessoas: uma oportunidade justa de ter um trabalho decente.
Para manter abertas as economias e as sociedades, as organizações internacionais responsáveis devem se reunir em torno de um quadro multilateral para mundialização justa e duradoura.
As negociações comerciais estão em pane; os mercados financeiros vacilam e estão à beira do colapso; a mudança hclimática está ocorrendo; toda refundação deverá encontrar um método para integrar as políticas financeira e econômica, social e ambiental no âmbito global.
A crise das subprimes não será resolvida com políticas tímidas.
O tempo é de audácia, de pensamento e ação inovadores, para responder aos imensos desafios que estão postos diante de nós.

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