Hora da unidade Brasil, Índia e África do Sul

Manmohan Singh, Lula e Kgalema Motlanthe

Lula questiona domínio norte-americano no controle da informação mundial e defende a linguagem do sul nos livros, nos jornais e na mídia falada e televisada da Índia, da África do Sul e do Brasil

Reunidos em cúpula, em Nova Délhi, neste mês, os líderes da Índia, Brasil e África do Sul – grupo denominado IBSA –, disseram que a crise global de crédito mostra a necessidade de solidariedade sul-sul e de reformas em instituições como a Organização das Nações Unidas (ONU), para que elas reflitam o crescimento econômico destes países.

Os três países já começaram a sentir os apuros da crise cuja culpa é atribuída aos erros e à ganância das nações ocidentais mais ricas.

"Corremos o risco de virar vítimas de crise financeira gerada pelos países ricos. Isso é injusto. É inadmissível que paguemos pela irresponsabilidade de especuladores que transformaram o mundo em enorme cassino. Ao mesmo tempo, eles nos deram lições de como devemos governar nossos países", disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no evento, acrescentando que os três p
aíses devem participar mais diretamente da coordenação internacional para confrontar a crise financeira.
Brasil e Índia, que fazem parte do grupo de novos emergentes chamado de BRIC, fazem campanha para ter mais influência nas políticas financeira e diplomática mundiais e a crise deu mais força aos seus argumentos para que principais mercados emergentes tenham assentos no Conselho de Segurança da ONU ou papel nas cúpulas do G8, que reúne os sete países mais industrializados do mundo mais a Rússia.
"Precisamos mais do que nunca renovar os esforços para reformar as instituições de governança internacional, seja a ONU ou o G8. Nossa voz precisa ser ouvida nos conselhos internacionais, para que lidemos com essa crise de forma que não prejudique nossas prioridades de desenvolvimento", disse o primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh.
"Os pilares de estabilidade... estão potencialmente no sul", disse o presidente da África do Sul, Kgalema Motlanthe.

Os três países convocaram reunião de urgência dos ministros da Fazenda e Comércio, além dos presidentes dos Bancos Centrais dos três países, para discutir medidas conjuntas que possam evitar que a crise financeira internacional os atinja de forma mais intensa.

Se houver recessão profunda no União Européia e nos Estados Unidos, a crise pode prejudicar mais ainda os emergentes e pobres, que são vendedores de produtos e serviços aos países ricos.

Por isso, é preciso diversificar as relações comerciais regionais: Brasil e Índia não exploram 10% de seu percentual; Brasil e África do Sul estão muito longe (de seu potencial).
Lula disse que é preciso fortalecer o mercado interno, manter obras de infra-estrutura em andamento e esperar que o dinheiro que está escondido apareça para garantir a liquidez no sistema financeiro internacional.

Lula inaugurou outra batalha, com objetivo de retirar o protagonismo dos Estados Unidos em mais um setor, o do conhecimento, reduzindo o domínio das emissoras norte-americanas.
"É extremamente importante que os homens que trabalham com comunicação na Índia, na África do Sul e no Brasil, comecem a entender-se para que a gente coloque linguagem do sul nos meios de comunicação, nos livros, nos jornais, e em tudo que for comunicação escrita, falada ou televisada, para que não sejamos vítima de uma única matriz de informação como somos hoje", disse ele.

Lula, que recentemente criou TV pública, a TV Brasil, quer mais alternativas às emissoras norte-americanas, como a CNN.
"Eu penso que bom seria se o indiano pudesse chegar no Brasil e ligasse a televisão e tivesse programa divulgando as coisas da Índia no Brasil; que bom seria se nós, como estamos no hotel aqui, ligássemos a televisão e tivéssemos um canal divulgando as coisas do Brasil aqui na Índia, as coisas da África do Sul; que bom seria se nós tivéssemos na África do Sul um programa transmitindo as coisas da Índia e as coisas do Brasil", comentou.

"Todos nós passamos o século XX e já estamos há oito anos do século XXI ouvindo a mesma matriz de informação. A mesma matriz ideológica. A mesma massificação. Sem que a gente faça um só gesto para colocar coisas novas nos meios de comunicação do nosso planeta".

A repórter da IPS, Indranil Banerjie, chamou a atenção para aspecto importante: apesar do discurso de fortalecer a solidariedade Sul-Sul, os líderes do grupo IBSA destacaram a contínua importância do Norte para o futuro econômico; os chefes de governo disseram que querem complementar, não substituir, o diálogo com o Norte.
“A cooperação Sul-Sul não pode substituir os compromissos com as nações industrializadas, mas é um complemento à cooperação Norte-Sul”, afirma comunicado ao fim da cúpula. A palavra-chave da cúpula foi inclusão, não oposição. “Necessitamos mais do que nunca renovado esforço para reformar as instituições de governabilidade internacional, seja nas Nações Unidas ou no G-8. Precisamos trabalhar deliberadamente para a conclusão da Rodada de Doha de conversações comerciais em forma que sejam promovidos o desenvolvimento e o crescimento inclusivo", diz o comunicado.

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