Ajuda internacional é vital para a África mais pobre, mas negócios são melhores

Crescimento do continente estagnou-se e uma das razões é que o custo de fazer negócios na região é muito alto

Por Ellen Johnson-Sirleaf, presidente da Libéria; e Nicky Oppenheimer é presidente da empresa De Beers (fotos)


A África hoje é mais democrática do que em qualquer momento desde o início da descolonização; o fluxo de ajuda internacional para o continente nunca foi maior, excedendo os US$ 30 bilhões e a explosão mundial dos preços das commodities alimentou altas taxas de crescimento econômico, que atingiram média de 6,6% em toda a África subsaariana.

Por que, então, a África está isolada atrás do resto do mundo na maioria dos indicadores de desenvolvimento?

A resposta, dizem, é que a África não está usando a ajuda internacional de forma apropriada, o que tem levado os governos africanos a dispenderem tempo e energia enormes para discutir, entre si e com organizações como as Nações Unidas e o Banco Mundial, como melhorar o impacto da ajuda.

A ajuda internacional é importante para os países mais pobres da África, mas também devemos tratar da verdadeira razão pela qual o crescimento estagnou-se: o custo de fazer negócios no continente é muito alto.

De acordo com a Corporação Financeira Internacional, 24 dos 30 países mais caros para empreender estão na África subsaariana.

Esses custos raramente são sustentados pelos consumidores; sobram para os produtores e empresários africanos.
É preciso melhorar as circunstâncias para que a cultura de competitividade estabeleça-se na região.
O capital privado que fluiu para a África subsaariana em 2007 foi estimado em US$ 50 bilhões.
O interesse crescente de investidores da China, Oriente Médio e outras partes da Ásia em relação à África oferece novas oportunidades para comercializar os recursos naturais únicos do continente no mercado mundial.
Os países africanos podem reduzir os custos e os obstáculos para empreendimentos econômicos e assumirem ainda mais a responsabilidade pelo seu próprio desenvolvimento e tornarem os investimentos prioridade.

Nenhuma regra única pode ser aplicada a todos os países africanos, mas também não precisamos reinventar a roda.

A experiência de economias pequenas e de médio porte bem-sucedidas em outros lugares do mundo durante os últimos 30 anos guarda importantes lições de desenvolvimento para a África.

Primeiro, a competitividade requer governos que possam estabelecer a estrutura para o investimento e que permitam que os negócios prosperem.
Ao responder com mais prontidão ao setor privado e não se colocar no caminho de seu sucesso, os governos podem concentrar-se em suas próprias vantagens competitivas de infra-estrutura, saúde e educação.

Poucos países na África conseguiram estabelecer e sustentar consenso político doméstico em torno do crescimento do setor privado e das reformas e freqüentemente dolorosas e necessárias para estimulá-lo.

Os países que conseguiram esse consenso político doméstico desenvolveram com sucesso.
A criação de centro de triagem e beneficiamento de diamantes em Botsuana, construído a partir de parceria entre os setores público e privado colocou o país entre as economias de crescimento mais rápido do mundo nos últimos 40 anos.
Os países precisam estar dispostos a mudar a mentalidade, abandonando a idéia de que os programas e planos estrangeiros irão tirá-los da pobreza; os países africanos precisam crer em sua própria visão para o futuro.

A ajuda internacional deveria apoiar os países apenas temporariamente, enquanto eles implementam as difíceis reformas para andar com suas próprias pernas.

Isso não é fácil; é verdade que os governos africanos sofrem de falta de capacidade; eles têm dificuldade para arrecadar os impostos e planejar e coordenar ações com os investidores e doadores.
Mas trabalhando juntos, os governos africanos, empresas e parceiros externos podem criar prosperidade e emprego no continente – se agirem como parceiros, não como predadores.
O debate internacional sobre desenvolvimento deve ser reformulado; ncerne do desenvolvimento está a relação entre os governos, seus cidadãos e seus próprios setores privados.

O debate internacional sobre desenvolvimento está em grande parte focado na interação entre os doadores, organizações não-governamentais e governos receptores.

Parte desse debate deve complementar os Objetivos de Desenvolvimento para o Milênio das Nações Unidas com objetivos de desenvolvimento para a competitividade.

Incorporando medidas de inovação econômica e eficiência administrativa, os países serão encorajados a construir empreendimentos e comercializar seu caminho para fora da pobreza.
Isso resolveria o problema dos indicadores que os empreendedores consideram os principais obstáculos para tocar um negócio: o custo do capital, eletricidade, transporte, telecomunicações, impostos, trabalho e a corrupção.
Finalmente, para fazer isso acontecer, os governos africanos precisam convencer seus cidadãos a adotarem as reformas necessárias.

A produtividade resultará de empreendimentos bem geridos, cidadãos educados e líderes dispostos a tomar os difíceis passos para fazer isso acontecer.

O uso efetivo da ajuda internacional pode apoiar as reformas na África, mas não deve ser o princípio organizador para o desenvolvimento africano.
A chave para o sucesso será a extensão em que os governos africanos serão capazes de fornecer os incentivos corretos para o setor privado para acrescentar valor à economia, para que tanto os negócios quanto o governo possam concentrar-se no que cada um faz de melhor.

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