Novo bloco latino-americano com 14 países destaca-se por tratar-se de mercado de mais de 370 milhões de consumidores, com renda per capita média de US$ 10 mil e produção de US$ 2 trilhões ao ano
Economista Pedro Raffy Vartanian
Consultor do Núcleo de Negócios Internacionais da Trevisan Consultoria
Professor da Trevisan Escola de Negócios e da Universidade Presbiteriana Mackenzie
A União de Nações Sul-Americanas (Unasul) foi oficialmente constituída em 23 de maio deste ano, com a participação da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela, além do México e Panamá como observadores.
A Unasul teve origem na reunião de presidentes da América do Sul, em dezembro de 2004, na ocasião da assinatura da Declaração de Cuzco.
Os objetivos deste Tratado podem ser confundidos, em parte, com os objetivos do Mercosul, criado em 1991 com a assinatura do Tratado de Assunção, pois o conteúdo do acordo é genérico e apresenta características de integração regional, ao prever, por exemplo, a livre circulação de pessoas entre os países membros. Outros objetivos, como a cooperação em infra-estrutura e políticas de defesa conjunta, mostram-se importantes em termos de fortalecimento da identidade sul-americana.
Ainda que não seja possível comparar o desenvolvimento do Mercosul com a União Européia, dadas as características de formação, de motivação e de conjuntura, pode ser interessante utilizar o Mercosul como base de comparação com a Unasul.
Desse modo, pode-se afirmar que todo processo de integração envolve custos e benefícios.
Os principais custos decorrem da perda de autonomia nas decisões dos Estados e parte na condução de suas próprias políticas, já que as decisões devem ser submetidas a um órgão supranacional.
Em contrapartida, o aumento da integração acarreta vantagens, como aumento do comércio entre os membros do acordo, além da ampliação do poder de barganha nas discussões internacionais.
Do ponto de vista da evolução do Mercosul, nota-se dificuldade recorrente no processo de integração diante da busca, por parte de cada um dos países, dos próprios objetivos, em detrimento dos focos do bloco.
Numerosos exemplos podem ser citados, como as diferenças na condução das políticas monetárias e cambiais dos países, desentendimentos acerca de disputas comerciais e questões energéticas, além de negociação de tratados com outros países desconsiderando as regras do grupo.
A integração é processo longo, evidentemente, e a assinatura da Unasul pode contribuir, de fato, para destacar a posição sul-americana no cenário mundial, pelas características da região em termos de produção agrícola e potencial energético.
É necessário, no entanto, que o processo decisório seja acelerado, e que os governantes definam, de forma veemente, que a integração deve ocorrer sem que a velocidade das decisões provoque reflexos negativos sobre os países.
A posição de destaque dos países do tratado explica-se pelos seguintes números: mercado consumidor de cerca de 370 milhões de habitantes, com renda per capita média em torno de US$ 10 mil e produção global de aproximadamente US$ 2 trilhões ao ano.
No atual cenário de retração dos países desenvolvidos, que devem apresentar taxa média de crescimento de 1,3%, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), as economias em desenvolvimento surpreendem com expectativas de crescimento médio de 6,7% em 2008.
Os países da Unasul, que se enquadram no segundo grupo, têm não somente o bom desempenho econômico a seu favor como também a produção das principais commodities com preços em alta, além de fontes de energia que garantem o crescimento acelerado nos próximos anos.
Em termos comerciais, as incertezas acerca do futuro do Mercosul e da Unasul não devem impedir a atuação das empresas brasileiras em processo de internacionalização.
O mercado latino-americano apresenta numerosas oportunidades, em diversos setores.
A proximidade física e lingüística, ainda que não sejam requisitos, contribuem para a facilidade de penetração e de êxito em mercados previamente estudados.
O mercado consumidor da Unasul equivale a mais um Brasil, em termos de consumidores e de renda.
O mesmo raciocínio pode ser aplicado para empresas em processo de internacionalização de todos os países da Unasul, que têm no Brasil um mercado consumidor que pode ser 60 vezes maior do que seu próprio mercado, como é o caso do Uruguai.
As economias de escala resultantes da internacionalização não podem ser desprezadas.
Não cabe afirmar que o ingresso em mercados de economias desenvolvidas deve ser interrompido ou substituído pelo mercado latino-americano em decorrência da assinatura de um tratado entre os governantes.
No entanto, destaca-se o fato de que proporção expressiva do comércio internacional refere-se aos bens comercializados por países que têm similaridade no nível de renda.
Assim, conclui-se que o mercado latino-americano surge como oportunidade para empresas em processo de internacionalização, e que uma eventual consolidação dos acordos apenas alavancará os investimentos e expansão dos negócios.
Nenhum comentário:
Postar um comentário