Da redação
O ministro da Defesa do Brasil, Nelson Jobim (foto), vai formalizar a proposta de criação do Conselho Sul-Americano de Defesa, na reunião da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), que será realizada em Brasília, no dia 23 de maio.
O ministro nega que o futuro mecanismo seja aliança militar convencional, nos moldes da OTAN, por exemplo.
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Jobim, que esteve com os governos da Argentina, da Colômbia, do Equador, da Guiana e do Suriname e com o presidente venezuelano Hugo Chávez, disse que todos foram receptivos à proposta.
O ministro afirma que o conselho deverá ter como princípio a não intervenção e o respeito à soberania de cada país, à autodeterminação dos povos e à integridade territorial, fundamentos da Constituição brasileira; e reforça que o mecanismo deverá envolver as três vertentes da região: amazônica, andina e platina.
De acordo com Jobim, a proposta brasileira pretende gerar maior confiança no campo militar e estratégico sul-americano, o que poderá ser alcançado com mais intercâmbio de ensino militar, participação comum em missões de manutenção de paz, ajuda a regiões afetadas por desastres naturais, realização de exercícios militares conjuntos e integração das bases industriais de Defesa da região.
Para o ministro, a região precisa aumentar a autonomia quanto aos suprimentos necessários para as suas Forças Armadas, o que requer maior capacitação tecnológica.
O conselho vai promover o debate de temas comuns, na busca por posições consensuais da América do Sul nos foros multilaterais, como a Junta Interamericana de Defesa (JID), vinculada à Organização dos Estados Americanos (OEA).
O site de relações internacionais e defesa InfoRel (www.inforel.org), através de seu diretor, jornalista Marcelo Rech, entrevistou o professor Expedito Carlos Stephani Bastos, especialista em assuntos militares e coordenador do Centro de Pesquisas Estratégicas “Paulino Soares de Sousa”, da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG), sobre a proposta de criação Conselho Sul-Americano de Defesa.
A seguir, transcrevemos trechos da entrevista:
Como especialista em temas militares, tem alguma expectativa positiva quanto à proposta do Brasil de criar-se este conselho?
Creio ser difícil a criação deste conselho, pois existem grandes diferenças entre os países da região e muitos possuem questões fronteiriças para serem resolvidas, além de que alguns entram em rota de colisão para serem o hegemônico na região.
A idéia não é absurda, mas na prática é complicada. É bom lembrar que já existe a Junta Interamericana de Defesa, mas dela fazem parte os Estados Unidos.
Afinal de contas, o que de fato se pode esperar deste conselho? Mais cooperação militar, industrial e/ou política?
Aí entra outro problema, na área industrial a maioria não tem condições para desenvolver projetos mais sofisticados, haja vista que apenas Brasil e Argentina possuem indústria de base e como ficará a nossa situação, pois somos visto como potência regional, mas não exercemos este papel, tanto que outros estão tentando exercê-lo. Não creio que será possível interação militar em grande escala, até pelas diferenças culturais e materiais que envolvem a maioria dos países no nosso entorno.
O ministro Nelson Jobim esteve nos Estados Unidos e falou que os países sul-americanos devem ser mais arrogantes na defesa dos seus interesses e que o conselho proposto não diz respeito aos norte-americanos. Dá para acreditar que tenha sido realmente duro com os Estados Unidos ou essa é estratégia para ganhar apoios na região, como da Venezuela, por exemplo?
Foi mera retórica, até porque os Estados Unidos não irão permitir aliança militar regional, no caso sul-americana, que possa ir de encontro aos seus interesses na região. Por outro lado, não sei como poderemos integrar a Venezuela, somando-se ainda à Bolívia, o Paraguai e de certa forma o Equador que estão sob a influência da Venezuela.
Desde que assumiu, o ministro tem falado em maior integração das indústrias de Defesa da região, mas parece que apenas o Brasil realmente possui tal estrutura. Como os demais países poderiam contribuir com conselho que pretende desenvolver tecnologias que impeçam a dependência regional de produtos e equipamentos das grandes potências?
Primeiro precisamos saber quais são as ameaças externas reais contra a região e se elas existem, e aí traçarmos qual o grau de tecnologia que necessitamos para enfrentar este problema e o que poderemos produzir concretamente para atender a todos e qual será a participação de cada um, visto que somente Brasil e Argentina possuem base industrial que poderiam fabricar produtos mais sofisticados.