Brasil deve aprender com recente lição de Angola

Submissão colonial foi substituída pela dependência financeira e tecnológica, muitas vezes implantada ardilosamente

Luiz Oswaldo Norris Aranha
Economista

Angola sofreu muito, em sua mais recente História, após a declaração de independência, e o que ocorreu serve de exemplo para os erros a evitar, em termos de estratégia nacional.
Os portugueses saíram da antiga colônia e deixaram a população local em precárias condições, pois esta mal sabia operar os equipamentos instalados, não tinha condições para conservá-los e estava sob sangrenta guerra civil.
A relação colonial deixou o país africano dependente financeira e tecnologicamente, e cristalizou sociedade estratificada, em que as gerências eram ocupadas por europeus, cabendo aos nativos apenas obedecerem a ordens, sem discuti-las e entender os detalhes.
Hoje se busca a autonomia econômica, com a diversificação dos laços internacionais.
Fatos semelhantes ocorreram em muitos outros países subdesenvolvidos.
A submissão colonial esvaiu-se no tempo, mas foi substituída pela dependência financeira e tecnológica, muitas vezes implantada ardilosamente pelos colonizadores, ao propiciar a independência.
Quem procurou entabular negócios na África sabe que as novas nações mantinham fortes laços com seus antigos dominadores.
Em outros locais, por opção, gerou-se relação externa do tipo periferia-centro, como no Uruguai, que se orgulhava de status similar ao da Suíça, mas que esgotou suas reservas cambiais e seus luxuosos táxis Mercedes Benz passaram a circular sem pára-choques ou portas, pela prática impossibilidade de repor as peças através da importação.

O Brasil acumulou reservas cambiais durante a Segunda Grande Guerra, mas, apesar de ter começado seu processo de industrialização, com a implantação da Companhia Siderúrgica Nacional, aliada à inevitável substituição das importações, que foram limitadas durante o conflito, findo este despendeu predatoriamente os saldos comerciais, comprando bens de consumo de pequena utilidade, destacando-se os curiosos ioiôs, conforme registrado pelos cronistas da época.
Mais adiante iniciou competente programa para o setor industrial, vinculado a tecnologias estrangeiras, porém realizado por empresários brasileiros.
Não apenas equilibrou a balança comercial, como veio a ser exportador de muitos bens de consumo e até de máquinas operatrizes.

As barreiras fiscais que propiciaram a substituição das importações, subsidiando as indústrias brasileiras, acabaram sendo retiradas, com a implantação de choque liberal, para conter os preços internos.
Abriu-se o mercado brasileiro para os produtores estrangeiros, além de se estabelecer relação cambial valorizando o real, voltando-se à compra indiscriminada de bens de consumo no exterior e causando-se profundo enfraquecimento dos fabricantes nacionais, obrigados a concorrer com similares tecnologicamente mais modernos ou de custo mais baixo, seja em função da escala de produção ou de economias voltadas para a exportação, como é o caso da China.
Empresas foram fechadas no Brasil ou ainda vendidas ao capital estrangeiro.
Há setores menos estratégicos em que, mesmo não se justificando o domínio das multinacionais, que deriva da propaganda e da fixação da marca perante aos consumidores, como é o caso dos sabonetes, ainda é possível admitir que a idéia da globalização e a fictícia vantagem comparativa da importação possam prevalecer. Mas há outros de vital importância para o futuro do Brasil e que vêm sendo gradativamente desnacionalizados, como os ligados à indústrias mecânica e elétrica, seja de bens de produção ou de consumo.
O estágio de país industrializado vem sendo perdido e o domínio, pelas empresas estrangeiras, consolida-se com a tecnologia e se expande pelas finanças.
A dedicação ao setor agropecuário eleva-se como foi à época colonial.
Volta-se a situação em que o Brasil exporta produtos primários e importa manufaturados e serviços.
Caminha-se para a total dependência às empresas estrangeiras.
Isto exacerba-se no tocante ao mercado financeiro, que vive sob intensa especulação dos capitais externos.
Se houver agressivo movimento de repatriamento dos capitais voláteis, as finanças brasileiras poderão chegar ao colapso.
Por esse motivo, demanda-se reserva internacional deveras elevada, pois o risco é muito grande.
Em longo prazo essa exposição tende a crescer e a atingir a todo o processo de produção industrial brasileiro, pois as decisões mais relevantes se darão no exterior. Pelo visto, o Brasil não aprendeu a recente lição de Angola e quer manter-se subdesenvolvido.

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