Mitos do comércio exterior


Porque há países que recebem investimentos e outros não; porque há empresas que se internacionalizam e outras fracassam

Olavo Henrique Furtado
Do Núcleo de Negócios Internacionais da Trevisan Consultoria e professor da Trevisan Escola de Negócios

A globalização não é invenção do final do século XX; já havia sinais, anteriormente, de que as empresas procuravam internacionalizar-se e fazer investimentos em outros países.
A questão de fundo é saber porque alguns países conseguiram receber investimentos e outros não; ou porque há empresas que se internacionalizam e outras não conseguem, fracassam.

Nesta nova fase pela qual o Brasil, passa é preciso desmistificar algumas meias-verdades sobre o comércio exterior, a internacionalização de empresas e, em âmbito mais amplo, o próprio processo de globalização.

De forma bem simples, este processo, como comentamos, não é novo, pois podemos remontar às grandes navegações do século XVI para encontrar ali a origem de algo que Karl Marx chamaria mais tarde de internacionalização do capital.

Obviamente que a intensidade do processo atual é, sem dúvida, o diferencial de seu passado remoto.
Processo contínuo de fluxo de bens e capital para além-fronteiras que está longe de perder intensidade, mesmo com crises conjunturais aqui e ali.
No entanto, é preciso dizer que nem todos os países ou empresas poderão usufruir das benesses deste processo.
Há, e alguns países africanos que o digam, grande parte da população que ainda não está inserida no capitalismo como consumidores, nem nos exíguos padrões de consumo imediatamente após as revoluções burguesas do século XVIII.
São hordas populacionais que encontram-se alijadas momento de bonança pelo qual passa o capitalismo, ou seja, vivem na periferia deste século XXI.
Sob o ponto de vista das empresas, é preciso alertar que os impactos não são e não serão os mesmos entre os diferentes setores, com a possibilidade de setores inteiros se reestruturarem, ou até mesmo desaparecerem, para que novos setores da economia venham a aparecer.
Quando a velocidade de mudança se acelera muito, este ciclo tende a acelerar-se, o que torna difícil estabelecer estratégias de médio e longo prazo.
Dificuldade a mais para os círculos da alta administração das empresas.
Se nem todas as empresas poderão ser globais, qualquer instituição hoje, independente do seu tamanho ou ramo de atividade, recebe e continuará recebendo influências deste capitalismo globalizado, seja como fornecedora, seja como cliente, seja como competidora ativa no mercado internacional.
Descontadas estas ressalvas mais genéricas, que não negam a globalização, mas sim a caracterizam, podemos afirmar que não existe país ou região economicamente autônoma.
O mundo é o grande e interdependente mercado da atualidade.
Sob o ponto de vista do Brasil dentro deste contexto de intenso comércio internacional, é preciso retirar do imaginário empresarial algumas idéias equivocadas.

Primeiramente de que operações no exterior são atividades relegadas às multinacionais estrangeiras ou aos grandes centros econômicos mundiais.

Sobre a impossibilidade da empresa brasileira, seja ela pequena, média ou grande, trata-se de equívoco muito mais cultural do que propriamente prático.
Considerando-se o produto e eventuais alterações, o mercado a ser atingido, a engenharia logística e de formação de preço, podemos sim vislumbrar cenário otimista para as empresas brasileiras no mercado externo.
E isto não está limitado ao tamanho das mesmas.
Há no mundo milhares de casos de pequenas e médias empresas que, ao adotar e bem administrar estratégias de internacionalização, acabaram ampliando mercados, ganhando escala e, principalmente, dividendos.
As campeãs-ocultas alemãs e os consórcios de pequenos produtores italianos são exemplos de como empresas deste porte, com mentalidade internacional, forma particular de abordar o desafio de internacionalizar-se e um objetivo bem definido, podem conseguir ótimos resultados no mercado externo.

Pelo lado das empresas nacionais de grande porte fica cada vez mais evidente a possibilidade de ganhar mercado externo quando observamos casos de sucesso como Embraer, Vale e Votorantim.

Tais empresas, competitivas mundialmente nos setores onde atuam, passam-nos a idéia de que a internacionalização não é apenas possível como necessária.

Os pequenos e médios fornecedores destas empresas acabam ilustrando novamente esta possibilidade de internacionalização de toda a cadeia produtiva, seja diretamente através da exportação ou do investimento externo direto, seja indiretamente, como fornecedora de matéria-prima para produtos exportáveis.

Seria ingenuidade de nossa parte não concordamos que o protecionismo de alguns países, a desvalorização do dólar ou as crises que de tempos em tempos mexem com toda a economia mundial são obstáculos para este processo e que obviamente tendem a prejudicar o lado mais sensível da cadeia produtiva.

No entanto, são obstáculos ou sazonais, que aparecem e desaparecem de tempos em tempos, ou possíveis de serem transpostos com dinamismo, criatividade e, sobretudo, profissionalismo.

Precisamos, por fim, resgatar a antiga idéia inicial e até histórica do comércio exterior de que se há um comprador interessado em comprar e vendedor interessado em vender, a possibilidade do negócio se concretizar é infinitamente maior.

Entraves burocráticos, barreiras cambiais e até dificuldades de comunicação em idiomas nem sempre simpáticos aos nossos ouvidos, acabam deixando de ser obstáculos intransponíveis para tornarem-se dificuldades a serem superadas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Buscar neste site: