Poder de compra em países ocidentais: inflação, mesmo baixa, corrói os orçamentos
Gilbert Gilles Gerteiny, consultor e professor de marketing internacional
O poder de compra destaca-se, na mídia dos países ocidentais, visto que a inflação, mesmo baixa, corrói os orçamentos da classe média.
É esta classe media quem mais sofre para manter o padrão de vida e não consegue ter rendimentos necessários, o que faz com que seu desejo seja reprimido.
Exemplo disso, temos os aposentados brasileiros, que buscam alternativas a fim de maximizar o seu achatado rendimento, a cada ano diminuindo mais.
No Brasil, os aumentos destinados às faixas de salários diferentes das do salário mínimo, a cada ano, tendem a reduzir-se.
Por essa razão, os executivos brasileiros aposentados que há cerca de 10 anos ganhavam cerca de 8 ou 9 salários mínimos mensais, hoje são levados a contrabalançar seu orçamento com logística digna dos mais sofisticados profissionais desta área, porque estão recebendo a mísera equivalência de 5 a 6 salários mínimos mensais, o que, em nenhuma circunstância satisfaz suas necessidades básicas.
No entanto esses aposentados têm que sobreviver e demonstrar aparência de vida correta, para não dizer digna.
Mas essa luta da classe média por sobrevivência não é particularidade brasileira; em diversas partes do mundo desenvolvido, acontecem comportamentos semelhantes e que, obviamente, mudam de mercado para mercado.
Na Europa, a valorização do euro está condicionando responsáveis pelos orçamentos familiares a repensar as compras e a escolher o que mais se coadune com seus rendimentos e que se ajuste a confluência de interesses e a suas satisfações pessoais.
É sabido que qualquer mudança de moeda acarreta certos exageros por parte dos comerciantes, justificado por arredondamento de preços, sempre favorável a eles.
Já nos EUA, a queda do dólar nos mercados mundiais não afeta muito o consumidor americano, que ainda conserva o poder de compra de sua moeda.
O americano dos EUA está acostumado a comprar os diversos bens alimentícios nas lojas do seu bairro onde ele pode conseguir o melhor custo beneficio.
Não é raro verificar o mesmo comportamento quando ele abastece o veiculo; ele sabe onde achar mais em conta a gasolina.
A lei do mercado norte americano permite esta busca e esta aquisição em condições satisfatórias.
Portanto, essa nova realidade, demonstra que o preço não é na maioria das vezes, a única maneira de orientar as compras da classe media.
Sondagem na França detectou que 60% dos franceses da classe média não buscam simplesmente preços baixos quando abastece a dispensa e a geladeira.
Eles buscam, no produto que vai a sua mesa, a garantia de sensação desejada que atenda as suas papilas gustativas e que alimenta, e, principalmente, dê-lhe a satisfação que o bom gourmet busca, quando se defronta com prato bem preparado e bem apresentado.
Pesquisa da TNS Worldpanel detectou seis comportamentos da classe media francesa face aos produtos alimentícios.
Eis as categorias:
1. Os “mais barato possível” consumidores que buscam os preços mais baixos e que freqüentam os circuitos hard discount, ou seja, as lojas tipo off price que sempre propõem os mais baixos preços, devido a margens menores de ganhos.
2. Os “baixo preço” consumidores que buscam em varias lojas os produtos a baixo preço e as melhores promoções, i.e. só compram os produtos “em promoção” nas lojas que visitam.
3. Os “especialista” consumidores que privilegiam os circuitos específicos em função dos produtos, i.e poderá ir a lojas de congelados especiais, mercados específicos de bairro, lojas, super ou hipermercados especializados em frutas ou legumes.
4. Os “razoável” consumidores que fazem malabarismos com seus orçamentos apertados e são muito ávidos de promoções, i.e compram os produtos da feira e fazem suas refeições baseadas nisto. É muito comum ver em alguns restaurantes os chamados “pratos da feira” onde o cozinheiro vai ver os produtos oferecidos neste dia na feira e prepara o seu “menu” baseado nisto.
5. Os “confortáveis” consumidores que gostam de cozinhar ou comer produtos frescos, i.e vão às lojas especializadas e compram os produtos que acabaram de chegar, mesmo que seja de outros paises. Acontece muito em lojas de frutas onde se pode achar, dependendo da época, mangas, jabuticabas, papaias e sapotis do Brasil, frutas do conde, carambolas da Tailândia, romã, okra, quiabo ou gumbo da África, tangerinas da Espanha, litchy e mangostan da China, cerejas e pêssegos do Chile, pfyisalis, a chamada “dama escondida”da Alemanha, Itália ou Egito, pistaches da Turquia ou Síria, cirimoia do Peru ou do México, abacate de Israel, banana de Costa Rica, rambutan e anona da Tailândia ou Índia, kiwi da Austrália ou Nova Zelândia, tâmaras da Tunísia ou Marrocos, maracujá ou fruit de la passion do Brasil ou Tailândia, tamarindo da Índia ou do Egito para só citar alguns.
6. Os “no limit” consumidores que gastam sem contar e gostam de se dar prazer i.e compram caviar de Petrossian no Caviar Caspia, na Place de la Madeleine, e iguarias no Hediard, Fauchon ou delicatesse do Bon Marché ou das Galeries Lafayette e queijos no Androuet, patisseries no Ragueneau, o mesmo que proporcionou ao Cyrano de Bergerac fazer montes de versos e presentear suas amadas com elas.
A categoria de consumidores que mais aumentou em 2007 foi a dos “razoáveis”, que são casais com filhos pertencentes à classe media.
Eles são sensíveis ao orçamento, mas privilegiam também os bons produtos em relação qualidade / preço.
Eles evitam os produtos de marcas de empresas e preferem privilegiar produtos da grande distribuição, ou seja, produtos de supermercados com marcas próprias, que consideram da mesma origem.
Eles migram para as marcas nacionais francesas.
Os novos produtos que trazem real “plus” ou, algo mais, atraem essa categoria que se dispõe a pagar mais por isso.
Um terço, apenas, dos lares compram produtos mais baratos ou por escolha, ou por obrigação.
Em oposição a este grupo, o grupo “mais barato possível” – composto de pequenos lares, solteiros, jovens e modestos – diminuiu em 2007 e freqüenta o hard discount. Este comportamento merece ser mais bem analisado no Brasil e quem sabe talvez, pudesse orientar os profissionais de marketing no sentido de eleger mais produtos de grandes empresas, com marcas próprias e desta maneira garantir ao comprador boa relação qualidade/preço.
Entretanto, não é suficiente colocar à venda produtos de grandes empresas com marca própria, será preciso ainda que o consumidor se dê conta que estes produtos são bons, de boa origem e especialmente garantidos pela marca da distribuição.
Isto precisa ser justificado, demonstrado e bastante divulgado. Mãos a obra, portanto, para garantir aqui o que o consumidor avisado já verificou lá fora e acabar com este negócio de pagar mais pelo produto idêntico.
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