Globalização: Brasil quer ficar entre os 20 maiores exportadores


Entrevista de Welber Barral (foto), secretário de Comércio Exterior, do Ministério do Desenvolvimento, da Indústria e do Comércio Exterior

Embora figure entre as 10 maiores economias do planeta, o Brasil representa pouco no comércio mundial – apenas 1,15%. A meta não muito ambiciosa de alcançar-se, até 2010, 1,25% do bolo global.
Sobram dificuldades, antigas e modernas.

Em comparação a importantes parceiros, é mais caro e demorado transportar mercadorias do Brasil para outros países.
A chaga social da escravidão, entre muitos males, atrasou o desenvolvimento nacional.

A burocracia e a precária infra-estrutura também.

"Comércio exterior é operação complexa; o produtor que exporta soja do Acre passa por sete estados, enfrenta estradas sem condições e entra na fila para embarcar a mercadoria", reconhece o secretário de Comércio Exterior, do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral.
Ele confia nas ações de curto, médio e longo prazos que garante estarem sendo feitas para que o Brasil figure, em dois anos, entre os 20 maiores exportadores – hoje é o 24º.
"Aumentamos muito as vendas para mercados não tradicionais, para países que o Brasil nem olhava. Isso é que tem permitido o aumento das exportações", afirmou Barral, aos repóreres Edna Simão, Vicente Nunes e Luís Osvaldo Grossmann, do Correio Braziliense, em Brasília.
A seguir, os itens principais da entrevista:


Entre os 20
A participação do comércio exterior brasileiro atingiu seu pico nos anos de 1950, no pós-guerra; o País chegou a ter 3% das trocas mundiais, graças à exportação de alimentos. O mundo estava destroçado e o país vendeu comida.
Na década de 60, o Brasil se fechou, adotando o modelo de substituição de importações, de tarifas muito altas.
Em 2000, tínhamos apenas 0,8% do comércio internacional. Desde então, ampliamos para 1,15%. Nossa meta é chegar a 2010 com 1,25% do comércio internacional. Podem achar pouco. Mas isso nos colocará na lista dos 20 maiores exportadores do mundo. Hoje, somos 24º.


Problemas logísticos
Comércio exterior é operação complexa. Tem problemas de transporte rodoviário, de atraso na fiscalização. Um cara que sai do Acre para exportar sua soja passa por sete estados enfrenta estradas sem condições e ainda entra na fila para embarcar a mercadoria. O tempo que se leva para encher um navio de contêineres, no Brasil, em média é de quatro a cinco dias.
Em Cingapura, são duas horas. Há fila de navios esperando. Tem caminhão parado esperando o navio chegar. O ideal seria reduzir o prazo para dois dias, pois ficaríamos próximos do que ocorre hoje na Europa e nos Estados Unidos.


Portos abertos

A certidão de nascimento do comércio exterior brasileiro foi a abertura dos portos do País ao mundo, em 28 de janeiro de 1808. Toda a estrutura de economia de mercado que temos hoje vem daquela época.
O Brasil assinou o primeiro acordo de comércio com a Inglaterra, acordo que tinha uma cláusula de nação favorecida. Essa cláusula, por sinal, acabou sendo, em 1947, o embrião do atual sistema multilateral de comércio.
Todo o Gatt (Acordo Geral de Tarifas e Comércio), quando foi negociado, teve como base fundamental a cláusula de nação mais favorecida.


Patins de gelo
Com a derrota de Napoleão Bonaparte, em 1815, as relações com outros países se ampliaram. O nosso segundo acordo comercial foi com a Bélgica.
Mesmo Portugal, que depois reconheceu a independência do país, fechou um acordo comercial.
Mas o Brasil, como a grande maioria dos países, priorizou o comércio com a Inglaterra durante todo o século XIX. Aquele foi o século da paz britânica, o império onde o sol não se punha.
A Inglaterra era a nação mais industrializada e a mais competitiva e vendia tudo para o Brasil, inclusive cobertor de lã e patins de gelo. Com o ciclo do café, no final do século XIX, o produto levou o país a se ter uma atuação global.


Vizinhança ignorada No século XIX, todo mundo olhava para a Europa e, dentro da Europa , para a Inglaterra. Com os EUA como potência, o foco mudou para lá.
As tentativas de comércio regional só nasceram em 1960. Foi um século e meio basicamente ignorando nossos vizinhos como estratégia comercial.
Mesmo entre a América espanhola não havia comércio por falta de complementaridade econômica.
Todos os países produziam o mesmo tipo de mercadoria. Em alguns países, inclusive, os ciclos econômicos foram os mesmos.
Tinha ainda os problemas políticos - sendo que alguns persistem até hoje - desconfianças mútuas e laços históricos com as metrópoles colonizadoras.
O Mercosul foi fundamental para que olhássemos em volta para os nossos vizinhos e não apenas para o Hemisfério Norte.


Herança escravagista

O grande comércio do Brasil foi o tráfico de escravos e resultou em mazelas sociais que vemos até hoje. O tráfico estimulava um grande movimento de investimentos especulativos, gerando um enorme grau de ineficiência na economia.
Envolvia muitos riscos, mas, se desse certo, o retorno era elevadíssimo. Era um negócio tão bom que havia gente que vivia do aluguel de escravos.
Com isso, não se trazia maquinários para o Brasil, pois não haveria o que se fazer com escravos.
Tudo isso, mais a tradição burocrática do império português, que ainda se mantém, estimulou o formalismo das relações empresariais, privilégios. Heranças daquela época que ainda estamos tentando nos livrar.


Fechado para o mundo

No Brasil, após a Segunda Guerra Mundial, o comércio exterior, em grande parte, foi considerado uma ameaça à industrialização brasileira.
Criaram-se enormes entraves ao comércio exterior. À medida em que se aumentam tarifas, você também fecha os mercados para seus produtos.
Em seguida, houve um período autoritário, quase tudo era questão de segurança nacional. Ou seja, novos entraves surgiram, tudo tinha de ser fiscalizado, tudo tinha de ser pesado, tudo tinha de ser visto. Isso gerou o principal custo para o exportador, que é o atraso, a demanda de tempo.
O que estamos fazendo? Atualizando normas, eliminando registros desnecessários.


Duplicidade de esforços

A norma de controle de comércio exterior é federal. Mas há as normas estaduais, de caráter tributário.
Estamos tentando coordenar melhor as ações dos estados em termos regulatórios e coordenar as ações de promoção comercial do país, para que o governo não faça uma coisa, o Banco do Brasil uma coisa e o Estado de Pernambuco, outra.
Queremos uma ação integrada, inclusive com os municípios. Atendimento às demandas com coordenação e sem a duplicidade de esforços.
A eficiência do comércio exterior exige uma estruturação em logística, um marco regulatório eficiente e claro e redução do custo de transação.
Tem que dar segurança para quem investe e quem está no comércio internacional, do lado daqui e do lado de lá.


Diversificação

Temos que continuar competitivos com produtos básicos. Mas, ao mesmo tempo, temos que investir em produtos de maior valor agregado, inclusive na exportação de serviços, que estamos descobrindo.
Temos que diversificar o destino das exportações. O Brasil, historicamente, principalmente no século XX, tem evitado a dependência de um único mercado.
O Brasil aprendeu isso ao depender tanto da Inglaterra. Temos uma dispersão grande de destino, que queremos aumentar mais.
Nossas exportações para a América Latina já são maiores que para os EUA. Aumentamos muito as vendas para mercados não tradicionais, para países que o Brasil nem olhava.
Isso é que tem permitido o aumento das exportações, apesar do câmbio.

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