A armadilha do dólar de Bush

Presidente e vice esperavam passar a sucessores a ruína de oito anos de governo antes de tudo explodir

Dave Lindorff, escritor, é autor de The Case for Impeachment: The Legal Argument for Removing President George W. Bush from Office , em co-autoria com Barbara Olshansky

A primeira resposta do governo dos Estados Unidos ao afundamento da economia do país foi a negação.
Ainda há um mês, responsáveis da administração e charlatães da Wall Street diziam-nos que a economia estava robusta e que não haveria recessão.
Agora dizem-nos que a economia está em perturbação, mas que o governo providencia ações decisivas para escorá-la.

Vimos quão efetiva era a primeira proposta "decisiva".
O presidente Bush anunciou plano para dar a todo contribuinte adulto US$ 800 em deduções fiscais no próximo mês de abril.
O mercado de ações respondeu a esta idéia caindo uns poucos por cento.
A idéia era estúpida desde o início porque, com os EUA já não produzindo muito seja do que for, de qualquer modo todos aqueles bônus de dinheiro acabariam por ser gastos com bens importados, pouco fazendo para a economia estado-unidense.

Depois, o Federal Reserve avançou com corte de 0,75 pontos percentuais na taxa dos Fundos Federais.
Mesmo considerando que bancos comerciais façam o mesmo, reduzindo a taxa básica de empréstimo (prime lending rate) de forma semelhante, o mercado de ações mostrou quanto faria tal movimento caindo quase 300 pontos no momento em que tocou o sino de abertura da bolsa – aproximadamente o mesmo que se esperava acontecer sem corte na taxa de juro.

Contudo, houve lugar onde a ação do Fed teve impacto: o valor de troca do dólar nos mercados estrangeiros de divisas.
Mal foi ouvido o anúncio do corte na taxa de juro, o dólar caiu contra as divisas principais como a libra britânica, o euro e o yen japonês.

Aí é que são elas.
O Fed está em armadilha.
O banco não pode cortar taxas de juros muito mais sem provocar colapso no dólar, o qual, devido ao enorme desequilíbrio comercial dos EUA, e todos aqueles bens de consumo e matérias-primas – especialmente petróleo – que são importados – conduziria a inflação séria e politicamente perigosa.
E há outro constrangimento com a actual taxa de juro: os EUA agora têm a terceira mais baixa taxa de juro do mundo.
Se o Fed fizer outro corte, como tem sugerido poder fazer em uma ou duas semanas, apenas o Japão teria ambiente com taxa de juro mais baixa do que os EUA.
Isto torna o dólar divisa muito indesejável para investidores estrangeiros, o que significa que eles não desejarão possuir dólares e que não desejarão possuir ações estado-unidenses.

Mas se o Fed não cortar ainda mais nas taxas de juro, o mercado de ações continuará em queda, o que mais uma vez desencoraja investidores estrangeiros de despejarem o seu dinheiro para dentro dos EUA, o que por sua vez coloca pressão baixista sobre o dólar.
Isto era tudo previsível.
Economia que está quase totalmente dependente dos gastos do consumidor, o que é o caso nos EUA, fica em grande perturbação quando os consumidores começam a preocupar-se acerca da segurança dos seus empregos, e quando vêm a inflação a comer o seu rendimento disponível.
Os consumidores naturalmente simplesmente param de gastar.
É isto que está acontecendo.

Teremos tempos econômicos difíceis.
O próximo passo será inflação ascendente, quando companhias atadas à China, Índia e alhures começarem a aumentar os preços para bens exportados para os EUA e pagos em dólares.
Então o Fed terá de responder elevando taxas de juro outra vez, em esforço para escorar a divisa, o que desencadearia recessão mais profunda e mercado de ações ainda mais baixo.

Os medos de Bush – déficits infindáveis tanto quanto se pode ver, e derrota militar no Oriente Médio de US$ 2 trilhões sem fim à vista e que está sugando dinheiro para fora do país como gigantesco aspirador de pó industrial – começam a concretizar-se.
O presidente e o vice-presidente esperavam claramente que pudessem passar a ruína dos seus oito anos no gabinete e correr para o retiro e o status de estadista sénior antes de isto tudo explodir, mas a sua sorte fugiu.
As probabilidades são de que a guerra que
Bush e Cheney tentaram esconder no armário com aumento disfarçado de tropas e campanha brutal de bombardeamento aéreo também explodirão sobre eles antes que o ano acabe.
Isto é pouco consolo para todos nós que temos de viver com os desastres a seguir, mas pelo menos se pudéssemos ver os dois sob processo de impeachment e indiciados, em janeiro próximo teríamos a satisfação de vê-los punidos.

Dave Lindorff
é autor de The Case for Impeachment: The Legal Argument for Removing President George W. Bush from Office , em co-autoria com Barbara Olshansky.

O original encontra-se em http://www.counterpunch.org/lindorff01222008.html

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