Papel das fundações Farfield, Ford, Rockfeller e Carnegie na ditadura militar
O assunto está queimando como rastro de pólvora pela internet: quase 30 anos antes de tornar-se presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso recebeu dólares prestando trabalhando para o serviço de inteligência do governo norte-americano – a CIA –, na ditadura militar, durante a vigência do famigerado AI-5, a partir de final de 1969, quando centenas de cassações e suspensões de direitos políticos estavam sendo assinadas; e as prisões encontravam-se superlotadas de líderes trabalhadores, estudantes, religiosos e políticos, centenas deles sob torturas ou já desaparecidos.
A denúncia está no livro "Quem pagou a conta? A CIA na guerra fria da cultura", da pesquisadora inglesa Frances Stonor Saunders (recém lançado, no Brasil, pela Record, Rio de Janeiro, tradução de Vera Ribeiro), que o jornalista Sebastião Nery, na Tribuna da Imprensa, definiu como terremoto: são 550 páginas, documentadas e minuciosas, já com enorme repercussão nos EUA e que certamente vão arrasar com a biografia deste ex-presidente, tranvestido de sociólogo intelectual, que, desde a primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tem sido mentor da oposição de direita, no país.
Fernando Henrique Cardoso agora deve mais explicações ao povo brasileiro e não só por estas denúncias de Frances Stonor Saunders, mas porque há outro livro, também resenhado por Nery: trata-se de "Fernando Henrique Cardoso, o Brasil do possível", da jornalista francesa Brigitte Hersant Leoni (Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, tradução de Dora Rocha).
Segundo Nery, o livro desvenda o ex-presidente brasileiro como "agente da CIA".
"Os americanos", afirmou Nery, "não estavam jogando dinheiro pela janela. Fernando Henrique já tinha serviços prestados. Eles sabiam em quem estavam aplicando a grana. Com o economista chileno Faletto, Fernando Henrique havia acabado de lançar o livro Dependência e desenvolvimento na América Latina, em que os dois defendem a tese de que países em desenvolvimento ou mais atrasados podem desenvolver-se mantendo-se dependentes de outros países mais ricos, como os Estados Unidos. Montado na cobertura da mídia pró-EUA e no dinheiro dos gringos, Fernando Henrique Cardoso logo tornou-se personalidade internacional e passou a dar aulas e fazer conferências em universidades norte-americanas e européias. Era o homem da Fundação Ford, que era um dos braços da CIA..."
As redação do MercadoGlobal fez contato com a assessoria do ex-presidente que se negou a pronunciar-se sobre o assunto.
As denúncias em ambos os livros são estarrecedoras, mas quem conviveu com o ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, Leonel Brizola, não se surpreende com essa atuação de Fernando Henrique Cardoso.
Brizola, que considerava Fernando Henrique Cardoso não apenas entreguista, mas militante em prol dos EUA na América do Sul, falava do que sabia sobre as ligações do então professor da USP com a CIA, fatos coincidentes com denúncias das historiadoras Saunders e Leoni.
Brizola, que viveu mais de 15 anos no exílio, sempre monitorado pela CIA, que repassava as informações aos militares brasileiros, conhecia os meandros da atuação da inteligência norte-americana.
O jornalista Altamiro Borges, ao comentar as denúncias das duas pesquisadoras, lembrou, em artigo para o Correio do Brasil, que Fernando Henrique Cardoso, nos 8 anos na presidência da República, regrediu a política externa brasileira para a vexatória posição de alinhamento automático aos EUA.
"Com sua ação servil, avançaram as negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), que é projeto dos EUA de anexação colonial do região; e o Mercosul foi congelado. Fernando Henrique Cardoso ratificou o acordo para implantação da base militar ianque em Alcântara (MA) e ressuscitou um tratado do período da guerra fria, o draconiano TIAR, que poderia levar o Brasil a participar da invasão imperialista do Iraque", afirmou Altamiro, acrescentando que após os atentados de 11 de setembro, Fernando Henrique Cardoso autorizou a instalação de um escritório da CIA no Brasil.
O jornalista denunciou que o ex-presidente, após deixar o Palácio do Planalto, passou a prestar consultoria aos governos dos EUA.
"Junto com Carla Hill, ex-representante comercial dos EUA, Fernando Henrique Cardoso coordenou grupo, sediado em Washington, que alertou o presidente-terrorista George Bush para os riscos da esquerdização da América Latina, segundo artigo do Financial Times de fevereiro de 2005. Fernando Henrique Cardoso presta hoje muitos serviços aos EUA, não há dúvidas. Mesmo suas ações conspirativas e golpistas contra o governo Lula lembram as velhas práticas do serviço de inteligência do imperialismo estadunidense", concluiu Altamiro Borges.
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