Diferentes faces da internacionalização


É mais globalizada a empresa que exporta ou a que constitui ativos no exterior?

Sergio Pereira

Gerente de Mercado Internacional da Cia. Nitroquímica (Grupo Votorantim)


Quem é mais internacionalizado? Empresa nacional que tem política de exportação clara e definida e, a partir do Brasil, entrega seus produtos em mais de cem países ou aquela que optou pela criação de unidade produtiva na China e, a partir de lá, decide abastecer cinco outros países da região?
Há pouco tempo, deparei-me com essa pergunta durante debate sobre a internacionalização de empresas brasileiras.
Achei a questão mais do que pertinente.
Há quem defenda que o conceito de internacionalização só é aplicável naqueles casos em que há a constituição de ativos no exterior.
Outros sustentam que o fato de haver produtos comercializados em outros países (de forma ativa, constante e baseada em estratégia clara) já faz com que a empresa possa ser incluída no rol das internacionalizadas.
Outra corrente defende que o fato de ir de um extremo a outro (da venda ao investimento direto) constitui processo racional e evolutivo da internacionalização baseado em etapas delineadas.
A discussão está lançada.
Muito se tem lido sobre as multinacionais brasileiras, o seleto grupo de empresas que avança na integração global. Elas investem pesado em produção, montagem e distribuição em outros países.
Atitude para poucos; não é tarefa simples negociar joint-ventures, estabelecer unidades produtivas, promover o licenciamento de marca e cuidar das entregas em outro país.
De um lado, elite formada por poucas dezenas de empresas.
No outro, minguado exército de pouco mais de 17 mil empresas que “somente” comercializa seus produtos no exterior.
Alguns analistas não consideram essas empresas como internacionalizadas.
Então, o que são?
Gostaria de conhecer pelo menos um exemplo de alguém que chegou ao estágio do investimento externo sem ter usado a experiência gerada pelas vendas externas como base da decisão estratégica.
Ignorar as exportações como forma específica de inserção no mercado mundial é erro tremendo.
Ao analisar o destino de um bem após a produção no exterior, note-se que há duas possibilidades: mercado local (próprio país ‘hospedeiro’) e as exportações a partir dali.
É difícil acreditar que alguém invista em qualquer país somente para abastecer essa praça, ignorando as enormes possibilidades que o mundo oferece (exceção talvez se faça à China e seu inacreditável mercado consumidor).
A conquista de novos mercados deve estar na raiz desse tipo de decisão.
Ao assumir essa possibilidade como factível, notamos a prévia experiência exportadora como elemento crucial na justificativa dos investimentos externos.
A necessidade de presença global pode fazer com que a produção se distancie do país de origem.
Não importa a partir de onde; note que somente a produção mudou de endereço.
A linha de defesa da internacionalização baseada na cisão entre investimentos diretos e exportação destaca o esforço realizado pela empresa.
É preciso encarar um arsenal de diferenças: cultura local, legislações, padrões contábeis, tributos, diferentes padrões de estrutura organizacional e muito mais.
Correto, mas é sempre bom lembrar que a exportação a partir do Brasil – quando feita de forma profissional – inspira os mesmos cuidados.
Dependendo da estratégia adotada, é claro. Para quem lida com condições sofisticadas de entrega, usando e abusando das logísticas integradas, a responsabilidade é imensa.
Estamos diante de um movimento de gestão internacional de fatores produtivos.
Ser internacional, nesses globalizados dias, é estar no mundo de forma ativa; seja vendendo, comprando, produzindo.

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